Este Programa de Extensão fundamenta-se, priomordialmente, na compreensão de música como prática humana, totalmente associada às variadas dimensões da vida social e cultural dos indivíduos, e que essa prática musical leva à “codificação de habilidades e entendimentos, à especificação de normas da performance, e ao estabelecimento de instituições para a transmissão de habilidades musicais, entendimentos e normas” (ELLIOTT, 2018, p. 23). Compreende-se, assim, que é a própria prática musical e a cultura na qual está inserida que definem suas regras e valores, inclusive os valores relacionados às habilidades necessárias para a formação de um músico. O conceito de Educação Musical Praxial derivado dessa compreensão sustenta um ensino de música concebido como prática social, que se dá em um processo ativo de reflexão e crítica, ambos a serviço do desenvolvimento comum dos indivíduos e considerando os valores que cada grupo social possui (ELLIOT; SILVERMAN, 2015). Por suas características, a Educação Musical Praxial apresenta-se aberta ao trabalho com diferentes formas de se fazer e ensinar música e busca criar um ambiente de ensino de música que contemple variadas formas de articulação com diferentes conhecimentos. A adoção de uma filosofia de ensino de música mais aberta à diversidade tem relação com a concepção chamada por Pereira (2012) de Modus Conservatorial de ensino de música. Para este autor, o ambiente acadêmico brasileiro de ensino de música ainda privilegia a cultura musical – consequentemente seus procedimentos de ensino – da tradição europeia. Sendo um país diverso culturalmente, acreditamos que seja importante que uma iniciativa que ofereça novas possibilidades de ação no que diz respeito à prática musical e seu ensino dentro do meio acadêmico. Em complemento à concepção de Educação Musical Praxial, este Programa também fundamentasse na produção brasileira sobre ensino coletivo de instrumentos musicais (CRUVINEL, 2003; DANTAS, 2010; GALINDO, 2000; MONTANDOM, 1992, 2004; NASCIMENTO, 2007) e, mais especificamente, sobre o ensino coletivo de violão (TOURINHO, 1995; 2007; 2010; SOUZA, 2014; BRAZIL, 2017). Esta concepção de ensino é definido por Tourinho (2010) como aquela em que o professor trabalha com diversos indivíduos, no mesmo espaço físico e ao mesmo tempo, e que todos aprendem juntos o mesmo repertório. A autora ainda coloca como princípios do ensino coletivo a crença de que todos podem aprender o instrumento, de que todos aprendem com todos, que a aula deve ser inteiramente planejada para o grupo mas leva em consideração as habilidades de cada um e que estimula a autonomia e tomada de decisão por parte do estudante (TOURINHO, 2007). Além dessas características, Montandom (2005) e Cruvinel (2003), concordam que o ensino coletivo de instrumentos musicais, quando não é uma mera transposição do ensino individual, é capaz de promover um resultado mais efetivo em termos de fluência e qualidade do discurso musical, o que é pedagogicamente mais coerente e também é bastante efetivo do ponto de vista da motivação do estudante. Por ser uma ação de caráter extensionista, acreditamos que tanto o fundamento filosófico de ensino de música aberta para a diversidade quanto a concepção de ensino que privilegia o fazer musical em grupo e a diversidade de metodologias, colaboram para que o diálogo com a comunidade universitária se dê de maneira efetiva e tenha real impacto no contexto universitário da UEFS.

As ações a serem desenvolvidas dentro deste Programa de Extensão dividem-se em dois grandes grupos: Atividades de Formação e Atividades de Produção Artística. Atividades de Formação As Atividades de Formação são aquelas que dão conta da oferta de oficinas regulares e oficinas de curta duração voltadas para o ensino e aprendizagem de instrumentos de cordas pinçadas. A Oficina de Iniciação ao Violão que já existe desde 2016 como parte integrante do Programa de Extensão Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais fará parte deste grupo de Atividades de Formação. O projeto prevê que sejam criadas oficinas que contemplem os níveis de conhecimento musical mais avançados, maior variedade de instrumentos (guitarra, contrabaixo, cavaquinho, entre outros) e que atendam a diferentes faixas etárias de estudantes. Já as oficinas de curta duração serão ofertadas a partir da demanda apresentada e pretende-se que dêem conta de tópicos específicos da aprendizagem do instrumento (improvisação, arranjo, etc). As formas de acesso aos cursos regulares poderão variar de acordo com a demanda apresentada. Até o momento, as Oficinas de Iniciação ao Violão utilizam o mecanismo de sorteio em função da grande quantidade de inscritos em todos os semestres. As outras oficinas que compõem as ações deste Programa poderão contar com etapas de entrevista e testes de nivelamento ou apenas inscrição. Atividades de Produção Artística As Atividades de Produção Artística dão conta dos grupos de performance musical que serão criados dentro deste Programa. A ideia é que sejam criados, a partir da demanda, diferentes grupos de nível técnico variados, que desenvolvam repertórios diversos escritos e/ou adaptados para formações que envolvam exclusivamente grupos de cordas pinçadas. Assim como no caso das Atividades de Formação, aqui também já há um grupo formado atuando desde o semestre 2017/2. As formas de acesso a estes grupos também podem variar, de acordo com a demanda. A ideia é que sejam priorizados os estudantes oriundos das próprias oficinas e estudantes do Curso de Licenciatura em Música da UEFS. Entretanto, pode-se também poderão ser realizadas seleções com membros da comunidade em geral. A experiência acumulada tanto nas Atividades de Formação quanto de Produção Artística, permeadas por atividades de pesquisa reflexivas, serão a base para futuras publicações de materiais didáticos, voltados tanto para o ensino dos referidos instrumentos quanto para a criação de repertório para formações que englobem instrumentos de cordas pinçadas.

Promover formação instrumental e espaços de prática musical utilizando instrumentos de cordas dedilhadas.

Proporcionar o acesso a formação de base em instrumentos de cordas pinçadas para público que deseja iniciar o estudo destes instrumentos; Proporcionar o espaço de aprofundamento de conhecimentos em tópicos específicos relacionados à execução, criação e arranjo para instrumentos de cordas pinçadas; Desenvolver atividades de pesquisa voltadas para otimização dos processos de ensino de instrumentos de cordas pinçadas; Produzir material didático sobre ensino, arranjo e criação de repertório para instrumentos de cordas pinçadas; Promover apresentações artísticas em ambientes diversos, dentro e fora da UEFS; Divulgar as experiências de ensino e de produção artística junto à comunidade acadêmica.

A Universidade Estadual de Feira de Santana conta, atualmente, com quatro ações no âmbito da extensão promovidas pelo Colegiado de Licenciatura em Música, que oferecem à comunidade atividades de formação e prática musical. São elas o Grupo de Dança e Teatro da UEFS, Projeto Sons e Teclas, Programa Canto Coral e o Programa de Extensão Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais, que tem como foco principal atividades de formação e artísticas de instrumentos de orquestra. Dentro deste Programa, desde o início do ano letivo de 2016 já são ofertadas ações de extensão voltadas para o ensino de violão, e desde o segundo semestre de 2017 já há um grupo de performance de instrumentos de cordas pinçadas em atividade. A partir disso, a justificativa principal da criação de um Programa de Extensão exclusivamente voltado para ações relacionadas a instrumentos de cordas pinçadas (violão, guitarra, cavaquinho, contrabaixo elétrico, entre outros) é seu fortalecimento e expansão. Essa expansão se mostra necessária em função da alta demanda existente de pessoas interessadas especialmente na realização dos cursos de iniciação ao violão. Somados os dados dos três períodos de inscrição realizados até hoje (2016/1, 2016/2 e 2017.1), o número de inscritos gira em torno de 1200 pessoas, das quais apenas 80 puderam de fato ser atendidas, graças ao trabalho de alunos estagiários que trabalharam no curso voluntariamente. Apenas no semestre 2017/2 as oficinas passaram a contar com um bolsista, mas ainda assim, aquém do necessário para que a quantidade de pessoas atendidas possa ser aumentada.