A Universidade pública no Brasil vem sofrendo uma série de ataques e ameaças advindos dos velados interesses privados no sucateamento da Universidade pública (DEUS, 2020); promove-se um questionamento sobre a importância da Universidade, da ciência e do conhecimento produzido para a sociedade, que tem sido impelida a tais julgamentos baseada na falácia de que não se beneficia do que a Universidade produz. A extensão universitária é uma resposta direta a tais questionamentos, já que explicita o papel da Universidade: “A universidade pública brasileira tem, como sua primeira missão, produzir conhecimento necessário para auxiliar a sociedade na solução de problemas urgentes e emergentes” (DEUS, 2020, p. 81). A autonomia, a formação de professores que sejam capazes de produzir seus recursos didáticos, pensados crítica e criativamente, conforme indicado por Paulo Freire (2004) é a ideia norteadora desse programa de extensão. O processo de ensino-aprendizagem resulta da relação que se estabelece entre professores, alunos e as possibilidades oferecidas ao processo pedagógico, de modo que a sua constante revisão e adaptação a novas condições sociais é fundamental para sua melhoria. O conhecimento é elaborado pelo aluno, a partir da mediação realizada pelo professor. Na perspectiva de COLL: A finalidade última da intervenção pedagógica é contribuir para que o aluno desenvolva a capacidade de realizar aprendizagens significativas por si mesmo numa ampla gama de situações e circunstâncias que o aluno “aprenda a aprender” [...] mediante a realização de aprendizagens significativas, o aluno constrói, modifica, diversifica e coordena os seus esquemas, estabelecendo, deste modo, redes de significado que enriquecem o seu conhecimento do mundo físico e social que potenciam o seu crescimento pessoal. Aprendizagem significativa, memorização compreensiva e funcionalidade do aprendido são três aspectos essenciais desta maneira de entender a aprendizagem em geral e a aprendizagem em particular (COLL, 1994. p. 137). Portanto, há uma ideia de ajuste na intervenção pedagógica, ou seja, quem se propõe a ensinar é o sujeito intencional do processo, o responsável por criar um ambiente adequado, ou ajustado, para que ocorra a aprendizagem. A desejada inovação no ensino perpassa pela diminuição do uso de clássicos aliados como o livro didático (CALLAI, 2016; PONTUSCHKA, PAGANELLI e CACETE, 2007) para ampliar o uso de recursos didáticos que consigam atrair a atenção do aluno, oferecendo-lhe possibilidades de estabelecer conexões e correlações próprias que o conduzirão à aprendizagem significativa. Esse debate é tão necessário quanto antigo e, apesar das tantas discussões teóricas (CUNHA, 1997; ZABALA, 1998; COLTRIBARE, 2002; SILVA, 2004; CAVALCANTI, 2005), em boa parte das escolas, ainda é raro o uso de recursos didáticos variados, mesmo que também sejam recursos clássicos, como charges, poemas, notícias de jornal, músicas, filmes, dentre outros. O descompasso entre o que deveria ser utilizado e o que de fato acaba sendo utilizado, está relacionado a diversos fatores, dos quais destacam-se a falta de tempo (devido às condições efetivas de trabalho) e de criatividade dos professores, além do estabelecimento de rotinas, como indicou Perrenoud (1999): […] a despeito das novas tecnologias, da modernização dos currículos, da renovação das ideias pedagógicas, o trabalho dos professores evolui lentamente porque depende pouco do progresso técnico, porque a relação educativa obedece a uma trama bastante estável e porque suas condições de trabalho e sua cultura profissional instalam os professores em rotinas. É por isso que a evolução dos problemas e dos contextos sociais não se traduz ipso facto por uma evolução das práticas pedagógicas (PERRENOUD, 1999, p. 2) A constatação dessas dificuldades reais instigou o desejo de colaborar efetivamente com os colegas da educação básica, disponibilizando-lhes recursos didáticos verificados e ajustados, prontos para inserção no seu planejamento pedagógico, de modo a facilitar o trabalho de pesquisa e de organização de recursos e atividades a serem utilizadas em sala de aula. Claro está que há consciência de que a disponibilização de recursos organizados não é responsável por inovar a prática docente e, por isso, assume-se o papel de auxiliar a descobrir recursos e já encontrar alguns formatados, admitindo-se que a produção de recursos inéditos requerem processos mais longos e, por essa razão, propõe-se estabelecer esse programa de extensão que permitirá o desenvolvimento de diversos projetos a curto, médio e longo prazo. Os projetos devem, progressivamente, avançar para a elaboração de proposições para o uso dos diferentes recursos didáticos, superando a resposta à pergunta “o que usar?” para a resposta à pergunta “como usar?”, buscando apresentar alternativas exequíveis a serem tomadas como inspiração e não como “receitas prontas” sobre o que fazer para ensinar, já que esta deve ser sempre uma escolha do professor (VEIGA, 1996). Em período anterior foram oferecidos cursos e minicursos para os professores da educação básica, mas a adesão foi irrisória: em parte porque o tempo da Escola é muito distinto do tempo da Universidade, em parte porque a oferta não interessou os colegas ou não os atingiu por falta de divulgação. A colaboração acadêmica com os profissionais da educação básica, a busca por formas de dispor o conhecimento produzido na Universidade para uso na Escola básica, sem que os docentes precisem vir à Universidade conduziu à organização do site do LEG. Tal intenção coaduna com a concepção de extensão indicada no Plano Nacional de Extensão, destacando-se os objetivos seguintes: “2. Reafirmar a Extensão Universitária como processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade, além de indispensável na formação do estudante, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade; (...) 10. Estimular a utilização das tecnologias disponíveis para ampliar a oferta de oportunidades e melhorar a qualidade da educação em todos os níveis” (FORPROEX, 2015, p. 09-10). Como já descrito, apenas durante a pandemia do Covid-19 e o isolamento social, desenvolvemos a competência técnica para dispor recursos didáticos sistematizados para uso na Escola básica; trata-se de um grande banco de dados didáticos, organizados por conteúdos, que facilita a pesquisa e o trabalho docentes na realização de seu planejamento cotidiano. Essa relação, mediada por um site é uma importante atividade extensionista e, conforme alguns colegas da educação básica e professores em formação tem nos informado, facilitam o seu trabalho porque já encontram alguns recursos prontos e/ou que precisam realizar pequenos ajustes para usá-los, coadunando com a seguinte conceituação de extensão: A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade. (FORPROEX, 2015, p.28). O curso de Licenciatura em Geografia da UEFS data de 1988. Desde então tem formado professores para a educação básica e auxiliado na formação continuada; embora possua longa experiência na formação de professores, o referido curso apenas em 2010 montou um Laboratório de Ensino de Geografia (LEG) e, de fato, é a primeira vez que oferece um serviço aos docentes da educação básica, a partir da extensão organizada no site, que expandiu a fronteira e alcance do curso de Geografia da UEFS para além de seus muros e laboratórios. O avanço do tipo de recursos que são disponibilizados no site do LEG depende de investimentos em pessoal e alguns equipamentos, que devem ser possíveis a partir do estabelecimento deste programa de extensão e dos projetos decorrentes, especialmente quando se projeta a produção efetiva de novos recursos, superando a compilação e sistematização de recursos existentes.

O programa será executado mediante a aprovação de projetos de extensão específicos para cada tipo de recurso a ser compilado e/ou desenvolvido. É preciso considerar que, ao tratar do ensino de Geografia, conforme foram dispostas as grandes temáticas no site do LEG e exemplificadas a partir do submenu de LEG I e de recurso disponível (Figura 02) – em consonância com a organização do currículo da licenciatura em Geografia na UEFS –, cada recurso precisa ser compilado ou elaborado para contemplar os diferentes assuntos que compõem tais temáticas, de modo que há uma relação de seis grandes temas (correspondentes aos LEGs), divididos em assuntos, em um total de quarenta e um (alguns organizados, ainda, em diferentes escalas: local, regional, nacional e global), de modo que o extensionista dedicado à compilação ou produção de um recurso, precisa de um tempo razoável para disponibilizar uma quantidade de recursos mínima e de boa qualidade para a escolha do professor que acessar o site em busca do recurso didático. Devido ao volume de trabalho e ante a observação e ajustes do que já se tem orientado na consolidação da ampliação do banco de dados disponibilizado, notou-se que é preferível que um estudante bolsista atue com um recurso didático para todos os temas, ainda que leve cerca de um semestre ou um ano para atingir um conteúdo satisfatório para a publicação no site. Por essa razão, para cada recurso focado, será proposto um projeto de extensão, com planos de trabalho específicos, cuja execução pode absorver de um até oito estudantes por um período de um ano (a depender da complexidade do recurso). Ademais, há recursos didáticos que precisam da revisão de profissional de Letras, de modo que o programa necessita da participação de um bolsista de Letras Vernáculas; isso já vem acontecendo e a contribuição do bolsista do programa Mais Futuro mostra-se fundamental na correção de possíveis erros ortográficos e de sintaxe no material produzido pelos bolsistas, uma vez que os recursos serão expostos no site e o nome da UEFS, como instituição, precisa ser zelado – bem como de toda a equipe executora. Outra colaboração preciosa é a assistência na organização do site e no desenho de cards; nesse sentido espera-se selecionar um bolsista específico para esse fim, uma vez que a demanda é muito grande, afinal são vários produtores de conteúdo e é preciso ‘alimentar’ o site. O programa deve ser iniciado com a submissão de projetos que contemplem os objetivos específicos acima indicados, de modo a criar condições para a produção e divulgação de textos adaptados, para a atualização do site do LEG, para a produção de atividades de fixação e sequências didáticas, além da produção do Atlas escolar de Feira de Santana. Ao longo do tempo, espera-se conseguir os recursos materiais necessários, melhorando a estrutura do Laboratório de Ensino de Geografia, que apresenta obsolescência especialmente em computadores, de modo que o projeto relacionado ao Atlas escolar de Feira de Santana só poderá ser proposto quando haja edital de fomento, seja interno ou externo. Os demais projetos a serem propostos são passíveis de execução, mesmo com as condições atuais, conforme já vem sendo realizado pela equipe do LEG, que conta com a professora coordenadora do laboratório, um Analista Universitário, bolsistas do programa Mais Futuro e alguns Voluntários. Nesse sentido, a aprovação desse programa corresponde à efetivação das atividades de extensão que temos desenvolvido, tornando-as institucionalmente ligadas à PROEX.

O objetivo geral desse programa de extensão é compilar, produzir e disponibilizar recursos didáticos, técnicas de ensino, sequências didáticas e propostas de intervenção pedagógicas para o ensino de Geografia na educação básica, de modo a tornar-se uma referência na busca de recursos didáticos de Geografia.

De modo específico, pretende-se: 1.Realizar o lançamento oficial do site www.uefs.leg.br e promover sua divulgação; 2.Elaborar e executar projetos de extensão que visem a produção de novos recursos didáticos, técnicas de ensino e sequências didáticas para o ensino de Geografia, a exemplo dos seguintes (os três primeiros devem ser iniciados no próximo edital de extensão): ⮚Compilar e organizar recursos didáticos para atualização e ampliação constante do site; ⮚Produzir e/ou selecionar em edital/projeto específico, com banca de avaliação, textos adaptados para todos os temas dos LEGs (LEG I, LEG II, LEG III, LEG IV, LEG V e LEG VI); ⮚Produzir atividades de fixação e sequências didáticas com o uso de diferentes recursos didáticos já disponibilizados no site do LEG, de modo a auxiliar os professores, com sugestões de uso dos recursos, com técnicas de ensino inovadoras e atividades de fixação e avaliação específicas para cada conteúdo, nas diferentes temáticas relacionadas ao ensino de Geografia. Exemplos: “Como ensinar relevo brasileiro com uso de músicas e filmes?”, “Como ensinar Coordenadas Geográficas com uso de charges e globos digitais?”, “Como ensinar segregação urbana com textos adaptados e notícias de jornal?”, dentre outros; ⮚Elaborar o Atlas escolar de Feira de Santana; 3.Realizar eventos científicos locais (grupos de estudo, palestras, seminários) e nacionais (seminários) para divulgação da produção sobre o ensino de Geografia; 4.Concorrer a editais específicos para a seleção de projetos e bolsistas de extensão.

O programa proposto visa institucionalizar as ações extensionistas que encontram-se em andamento no Laboratório de Ensino de Geografia, cuja coordenadora e equipe proponente têm empreendido esforços para organizar um amplo banco de dados de recursos didáticos para o ensino de Geografia, disponibilizando-o através do site: www.leg.uefs.br (Figura 01). Trata-se da consolidação de um projeto de extensão executado entre os anos de 2010 a 2013 (Res. CONSEPE 067/2012), intitulado “Ensino de Geografia: inovação de recursos didáticos e técnicas de ensino em Feira de Santana”, mas cuja forma de extensão do conhecimento resultante não conseguira atingir, de fato, o seu público alvo (os professores da rede básica de ensino, porque, à época não dispúnhamos de competência e condição técnica para difundir o banco de dados didático produzido (plataforma acessível e capacitação para a criação de um site), podendo disponibilizar apenas a consulta local aos materiais produzidos, de acesso mais difícil aos professores, mesmo aos atuantes em Feira de Santana. Durante a pandemia da Covid-19 e o recesso imposto com suspensão das atividades acadêmicas em 2020, com retomada remota em 2021 e, apesar de todas as mazelas, a vida acadêmica on-line nos obrigou a buscar alternativas para continuar produzindo, de forma relevante, em benefício da instituição e da comunidade universitária, em especial do curso de Licenciatura em Geografia. A alternativa encontrada foi a criação do site do LEG, com forte inspiração no projeto de extensão anteriormente executado, voltado à divulgação de recursos didáticos para o Ensino de Geografia. Atualmente, o site do LEG é uma realidade, e já disponibiliza acesso aos seguintes recursos compilados: charges, músicas, gráficos e infográficos, mapas, questões do ENEM, questões de vestibulares, videoaulas, indicação de filmes, para as diferentes temáticas do ensino de Geografia, bem como alguns recursos reelaborados e/ou (re)ajustados, a exemplo das notícias de jornal que sofrem edição para ajuste pedagógico, no menu ‘Aportes práticos ao ensino de Geografia’. Além disso, busca-se fomentar o intercâmbio de conhecimentos, a partir da oferta de Cursos Teóricos e Práticos de Curta Duração (12h a 30h), a partir de proposição dos ministrantes em formulário específico (Cursos > Ministre um Curso - Site Institucional do Laboratório de Ensino em Geografia), devidamente avaliados pela equipe de coordenação do programa. Outros recursos didáticos como imagens, aplicativos e programas para suporte pedagógico encontram-se em processo de pesquisa e edição para publicação no site. A percepção sobre a necessidade dos professores da educação básica por recursos didáticos sistematizados, avaliados e didaticamente ajustados, permite afirmar que a ação que está em curso pode e deve continuar ao longo dos próximos anos, ampliando-se e qualificando-se para a efetiva produção de recursos didáticos inovadores, superando a compilação e organização de banco de dados em curso atualmente. Outrossim, temos recebido importantes retornos positivos e propositivos de colegas da educação básica e de ex-alunos que têm relatado fazer uso do site do LEG, solicitando que ampliemos a ação para a produção de outros recursos que os auxiliem. Além disso, a fim de apoiar a formação teórica na graduação e na formação continuada, selecionamos e disponibilizamos em “Aportes teóricos ao ensino de Geografia” (http://www.leg.uefs.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=62), textos relacionados a diversas temáticas relacionadas ao ensino de Geografia e dimensões pedagógicas, metodológicas e políticas da educação, além de disponibilizarmos uma lista de revistas que tratam essencialmente do ensino de Geografia ou, pelo menos, que possuam seção fixa/permanente para isso (http://www.leg.uefs.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28). É nesse sentido que propõe-se o estabelecimento do programa: (Re)Leituras do ensino de Geografia - RELEG, uma ação extensionista de duração longeva e com projetos distintos, com foco na produção de recursos didáticos, técnicas de ensino, sequências didáticas e propostas de intervenção próprias, cuja necessidade foi constatada ao consolidar o site do LEG na etapa de compilação, sistematização e disponibilização de recursos didáticos ajustados, bem como na escuta dos professores em formação no curso de Licenciatura em Geografia e nos programas institucionais voltados à docência, como o Universidade Para Todos e a Residência Pedagógica. Quanto ao público alvo, espera-se atender os professores de Geografia da educação básica, tanto da Bahia, quanto do Brasil, que podem acessar e baixar gratuitamente todo o conteúdo do site. É necessário avançar para disponibilizar recursos didáticos para o ensino da Geografia de Feira de Santana e da Bahia, especificamente, pois a carência de materiais didáticos voltados a conteúdos locais e regionais é bastante sensível. Importa salientar que não se pretende elaborar receitas mágicas para as aulas de Geografia, porque não é esse o propósito da Licenciatura em Geografia na UEFS, nem tampouco da equipe propositora desse programa. O que se pretende fazer é disponibilizar recursos didáticos bem organizados, disponíveis em formatos amplamente conhecidos e de fácil uso, como imagens JPEG, documentos do Microsoft Word (DOC/DOCX) e arquivos prontos para impressão (PDF), para que o professor escolha qual a melhor forma de utilizá-los em seu planejamento, uma vez que nossa ação norteia-se pelos pressupostos de Paulo Freire (2004), para quem a autonomia docente é princípio inegociável.