O processo cognitivo usado por pessoas para resolver problemas com base em um pensamento algorítmico tem sido denominado “Pensamento Computacional” (RIBEIRO et al., 2013). Apesar de ser base para a Ciência da Computação, o pensamento algorítmico é aplicável a qualquer área de estudo e em atividades cotidianas, como leitura, escrita e operações aritméticas (WING, 2006). Disciplinas com foco em pensamento computacional têm sido apresentadas em grandes centros e países desenvolvidos, principalmente na formação de crianças. O pesquisador Silvio Meira, fundador de um dos mais importantes parques tecnológicos do Brasil, considera que em um futuro muito próximo não entender como reprogramar interfaces computacionais “será um problema tão fatal, para qualquer um, como não entender porcentagens”. Ele aponta que o ensino de algoritmos (que é um dos temas centrais do pensamento computacional) é necessário pra todos e deve ser parte da formação em estágios anteriores ao ensino superior (MEIRA, 2012) e (MEIRA, 2013). Existem diversas frentes de ação visando fomentar a formação com base no pensamento computacional: pesquisadores e práticos têm discutido metodologias de ensino, currículos, ferramentas de suporte, entre outras possibilidades de abordar o tema (ARAUJO et al. 2017). O Massachutes Institute of Technology (MIT), uma das referências mundiais em engenharia e tecnologia, desenvolveu uma ferramenta de programação com o objetivo de ajudar jovens a pensar de forma criativa, raciocinar sistematicamente e trabalhar colaborativamente. Esta ferramenta é denominada Scratch (MARJI, 2014) e tem sido amplamente utilizada no ensino de programação para crianças e pensamento computacional. Uma evidência é que a Universidade de Harvard oferece suporte à elaboração de um curso voltado para o pensamento computacional baseado em Scratch (http://scratched.gse.harvard.edu/ct/). O Google também oferece curso de pensamento computacional (https://edu.google.com/resources/programs/exploring-computational-thinking/). A Sociedade Brasileira de Computação (SBC) definiu diretrizes para aplicação do pensamento computacional para os diversos níveis de escolaridade e apresentou-as no principal congresso de computação do Brasil no ano de 2017 (RAABE et al., 2017). Todo o suporte existente para a discussão do pensamento computacional tem fomentado uma série de pesquisas sobre o tema. Alguns autores discutem a importância e os desafios para aplicação do pensamento computacional (RIBEIRO et al. 2013; AHO A. 2012; WING J.M. 2008). Outros apresentam experiências realizadas (KAFURA and Tatar, 2011; RUTHMANN et al. 2010). Outros ainda desenvolvem ferramentas de suporte (PERKOVI 2010). Um importante aspecto a ser considerado na teoria que envolve o pensamento computacional é o conceito de computação desplugada. A computação desplugada é uma abordagem que tem o objetivo de ensinar os fundamentos da ciência da computação sem a necessidade de computadores (FEASTER et al., 2011; TAUB; ARMONI; BEN-ARI, 2012; RODRIGUEZ et al., 2017). Esta abordagem tem a vantagem de ser aplicável a crianças de várias idades com recursos mínimos como papel, caneta, réguas, etc. No presente projeto, alguns professores estão trabalhando práticas de computação desplugadas, seja como alternativa para a falta de recursos para a criação dos laboratórios, como para possibilitar fazer com o que o projeto impacte um número maior de crianças . Apesar do extenso conjunto de evidências demonstrando a importância da incorporação do pensamento computacional nos currículos do ensino médio é fundamental, essa não é uma realidade das escolas em cidades de pequeno porte do interior do estado, como é o caso de Piritiba. Dois aspectos relevantes para a transformação do cenário da educação destas cidades podem ser destacados: o interesse do poder público e a qualificação dos atores do processo. Este projeto conecta estes dois elementos. A atuação da UEFS na agenda de desenvolvimento sustentável assumida pelos agentes públicos e a sociedade civil organizada da cidade de Piritiba possibilitam a incorporação do pensamento computacional no currículo das escolas do ensino fundamental, onde antes isso era impensável. A transformação pela educação é um passo fundamental para o cumprimento de qualquer agenda de desenvolvimento sustentável onde os indicadores apontam que a qualidade da educação precisa ser bastante melhorada (http://ide.mec.gov.br/2011/municipios/relatorio/coibge/2924801).

- Convênio entre Prefeitura Municipal de Piritiba e UEFS. Para realização desta etapa, o professor coordenador atuará junto à reitoria, bem como junto à prefeitura da cidade de Piritiba, para promover a assinatura do convênio. - Levantamento da condição de infraestrutura das escolas da cidade, em termos de espaço físico, computadores, internet, professores e qualquer outro item necessário ao desenvolvimento do projeto. Esta ação será realizada pelo professor coordenador do projeto em viagens à cidade de Piritiba (sem custo para a UEFS), onde as escolas serão visitadas. Os professores ou a prefeitura municipal de Piritiba arcarão com os custos de viagens envolvidos, caso necessário. - Estudo sobre experiências de implantação de práticas do pensamento computacional no ensino fundamental. Serão considerados ensino de algoritmos, robótica e programação através de kits Arduíno. Todos os membros da equipe executora atuarão nesta atividade, realizando estudos e discutindo em reuniões em grupo as possibilidades de aplicação e a elaboração das práticas. - Elaboração e realização de treinamento de professores que executarão as práticas ligadas ao pensamento computacional. Esta etapa também envolverá todos os membros da equipe executora. Os cursos serão realizados em Piritiba ou no Laboratório de Programação, sala MP 35, da UEFS. Isso dependerá do formato do curso e da definição das melhores condições para a realização da ação. Não haverá custo para a UEFS. Os professores ou a prefeitura municipal de Piritiba arcarão com os custos de viagens envolvidos, caso necessário. - Elaboração de projeto pedagógico para incorporação do pensamento computacional no currículo do ensino fundamental da cidade de Piritiba, em conjunto com a secretaria de educação local. Inicialmente, planejamos envolver todos os alunos dos anos finais do ensino fundamental (do sexto ao nono ano), mas isso depende de uma articulação com a secretaria de educação local, pois envolve realocação de recursos (professores da rede municipal de ensino). Somente depois de algumas reuniões e observações isso poderá ser definido. Esta ação envolverá todos os membros do projeto. Será realizada via conferência e em reuniões com a secretaria municipal de educação de Piritiba, também sem custo para a UEFS. Os professores ou a prefeitura municipal de Piritiba arcarão com os custos de viagens envolvidos, caso necessário. - Definição de indicadores de avaliação dos resultados da incorporação do pensamento computacional nas escolas municipais do ensino fundamental de Piritiba. Esta etapa envolve a realização de pesquisas com estudantes de graduação e/ou pós-graduação que venham a se envolver no projeto. Caso não haja estudantes bolsistas envolvidos no projeto, os indicadores do governo (IDEB) e o desempenho dos alunos em sala serão utilizados como balizadores do impacto da inserção do pensamento computacional na formação dos alunos. - Implantação da infra-esrutura para realização do projeto (a implantação dos laboratórios com computadores e kits de robótica e programação Arduínio será viabilizada em função de recursos que serão buscados como programa Epics do IEEE, Prefeitura Municipal de Piritiba, e outras possibilidades futuras). É importante ressaltar que alguns membros da equipe executora estão trabalhando na proposição de práticas baseadas no conceito de computação desplugada, conforme descrito na Seção Referencial Teórico. A proposição de cursos baseados em computação desplugada permitirá a implantação do projeto, mesmo que a infra-estrutura básica de computadores não seja oferecida. Destacamos, entretanto, que a prefeitura nos comunicou que já há uma licitação em andamento para compra de computadores para instalação de laboratórios de informática nas escolas da rede municipal de ensino. - Acompanhamento e avaliação da realização do projeto, com base em indicadores pré-definidos. O acompanhamento do projeto implicará na observação e auxílio aos professores da rede municipal de ensino durante a realização das práticas voltadas para a formação do pensamento computacional em sala de aula durante o ano letivo. Estas atividades serão realizadas via reuniões e observações nas salas das escolas de Piritiba. Não haverá custo para a UEFS. Os professores ou a prefeitura municipal de Piritiba arcarão com os custos de viagens envolvidos, caso necessário. - Divulgação dos resultados em períodos científicos e congressos da área (sem solicitação de recursos para a UEFS).

- O objetivo geral deste projeto é incorporar o pensamento computacional na formação dos alunos do ensino fundamental em cidades de pequeno porte do interior do estado da Bahia.

- Elaborar e realizar cursos de formação em Pensamento Computacional para professores do ensino fundamental; - Definir e implantar laboratórios para realização dos cursos de formação em Pensamento Computacional; - Definir métricas para avaliação da realização dos cursos de centrados no Pensamento Computacional; - Implantar infraestrutura necessária para que as escolas possam incorporar em seus currículos disciplinas centradas no Pensamento Computacional; - Inserir práticas para formação em pensamento fundamental nas aulas do ensino fundamental, através dos professores preparados pela formação panejada neste projeto; - Utilizar a cidade de Piritiba como um projeto piloto.

Piritiba é uma típica cidade do sertão nordestino com a economia centrada em agricultura e pecuária. De acordo com dados do IBGE, a população da cidade gira em torno de 25 mil habitantes e permanece praticamente inalterada desde 1991. Isso ocorre porque cidades com esta característica oferecem poucas condições para formação e fixação de jovens em um mercado local ou regional. O êxodo é um problema histórico de pequenas cidades do sertão nordestino. Visando transformar este cenário, a cidade aderiu à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável proposta pela ONU (https://nacoesunidas.org/tema/agenda2030/). Desta iniciativa surgiu o movimento denominado “Piritiba 2030: Desafio Digital” (http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/hackathon-no-sertao-de-piritiba/), cujo foco é redirecionar a vocação da cidade, transformando-a em um polo de produção de tecnologia digital no estado da Bahia. O poder público e a sociedade civil organizada da cidade tem concentrado esforço significativo na proposição de uma pauta que possibilite mitigar dificuldades típicas de cidades deste porte no interior do estado. Um resultado concreto foi a realização de um evento ocorrido em agosto de 2017, com a participação de importantes agentes transformadores no cenário nacional e mundial. Destacamos Marcelo Neves, superintendente da Sudene; Cleonice Rehem, assessora de Educação Superior da Secretaria de Educação Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC); Claudete Alves, coordenadora da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) na Bahia; Álvaro Oyama, fundador e diretor executivo da Fábrica de Florestas; José Amancio, professor do curso de Engenharia de Computação da Uefs; e Eduardo Athayde, diretor do Wordwatch Institute (WWI) no Brasil. Alguns resultados podem ser observados a partir deste encontro, como a assinatura de um convênio entre Piritiba e o Instituto Federal da Bahia (IFBA) para instalação dos cursos técnicos, e a realização da primeira FLIPI (Feira Literária de Piritiba). Uma premissa assumida pelos atores envolvidos no movimento “Piritiba 2030” é que a educação é o pilar básico desta agenda de desenvolvimento sustentável. A UEFS pode assumir papel central neste processo, oferecendo suporte a modificações que impactem diretamente na melhoria da qualidade da formação dos estudantes da cidade de Piritiba e região. Educação com foco na formação tecnológica é um tema tem recebido atenção, mas ainda não é realidade em cidades com economia pouco desenvolvida. Este projeto se justifica, então, pela incorporação da UEFS como um dos agentes ligado à formação tecnológica dentro de uma Agenda de Desenvolvimento Sustentável em uma cidade típica do sertão baiano.