Inicialmente gostaríamos de situar o Programa Encaminhar: Ação Cidadã, como um programa distante de qualquer proposta mercantilista e/ou assistencialista. Será uma ação propositiva e responsável, neste sentido interagimos com a idéia de Correia (2008) quando afirma que para os projetos sociais em Educação Física, esporte e lazer obtenham êxito e cumpram seu papel transformador nas comunidades “vulneráveis”, é necessário que eles sejam desenvolvidos e administrados com a mesma seriedade e eficiência de uma empresa, entretanto com comprometimento e responsabilidade social muito maior. Na constituição brasileira (Brasil, 1998), os artigos 6º e 217º definem a prática desportiva e do lazer como um direito social e que cabe ao poder público promovê-las. Esse entendimento é primordial para a garantia da participação política e democrática das populações denominadas vulneráveis e para que os projetos na área da Educação Física, do esporte e do lazer atinjam todo o seu potencial de mediador, facilitador e propositivo para o desenvolvimento humano. Historicamente o ensino do esporte esteve, especialmente até meados da década de 80, articulado com os sentidos e os significados numa concepção fragmentada e tradicional (competição exarcebada, busca do record, individualismo, especialização precoce, reprodução do modelo social desigual, exclusão da maioria, reforço dos valores dominantes). A influência destes códigos e sentidos do esporte de alto rendimento é materializada em diversos espaços escolares e não escolares. Em geral a organização das aulas no ensino do esporte tem objetivado o desenvolvimento da aptidão física, através da repetição do modelo de esporte no alto rendimento, contribuindo assim para exclusão, na busca do desempenho máximo (alto rendimento), com ênfase apenas na questão técnica/tática, ao priorizar alunos mais talentosos em detrimento daqueles menos talentosos (OLIVEIRA, 2001). A nossa proposta dentro do programa implica é claro no ensino da técnica, da tática do esporte, contudo garantindo ações que oportunizam o desenvolvimento do cidadão integral. Nesse sentido corroboramos com o pensamento que sugeri os seguintes princípios pedagógicos para o ensino do Esporte (FREIRE 2003, apud SCAGLIA, 2009): Ensinar Esporte a todos: está diretamente compromissado com o conhecimento, aprendizado; portanto, este deverá ter o comprometimento de ensinar a todos, independentemente do conhecimento já estabelecido, de sua condição física ou condição social. Compreender assim o jogo/esporte como um direito humano que deve ser estendido a todos os cidadãos, não a um pequeno grupo de privilegiados. Ensinar bem para todos: ou seja, não basta ensinar, é preciso ensinar bem. Um ensinar comprometido com o indivíduo dentro do processo pedagógico. Ensinar mais que esporte a todos: Não pensar apenas no desenvolvimento do talento esportivo, mais que isso, na sua condição humana. O ensinar, ação intencional, sistematizada, deverá estar comprometida com os princípios éticos, morais, afetivos, sociais etc., de forma autônoma levar os indivíduos a compreender suas próprias ações; Ensinar a gostar do esporte: Para que os aprendizados com o esporte e o próprio esporte possa ser uma realidade em diversos espaços, lúdico, prazeroso em seus momentos de lazer. O PEAC tem como característica a formação humana e esportiva, através da implantação de Escolas Esportivas. A nomenclatura “Escola” deve ser inserida (e não escolinhas, como é comum), pois, ao compreender a escola como um centro de educação das linguagens, reconhecendo a sua função social, a reconhecemos como um espaço rico na possibilidade de aprendermos a nos comunicar e interagir com o mundo. Dentre as várias linguagens comunicativas, destacaremos uma que é a corporal. O jogo/esporte, mediado pedagogicamente, (uma das funções da educação física em espaços escolares) tem a possibilidade de permitir às crianças a apropriação de conhecimentos necessários a sua formação humana, atribuindo sentido e significado a ação de jogar, estabelecendo ligações entre códigos e linguagens diversas. Acreditando que: O jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade física ou biológica. É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa em ‘jogo’ que transcende as necessidades imediatas da vida e confere sentido à ação (HUIZINGA, 1980). Com o PEAC propomos um programa de pesquisa e extensão, concatenada com afirmação de que “ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo, ou seja, pensar certo é fazer certo” (FREIRE, 1996). Propomos reiniciar um “novo jogo” social, com novas regras democráticas, formando novos sujeitos, numa relação dialógica com a atual conjuntura social, econômica, cultural da humanidade, considerando o esporte como recurso e método neste processo. Este programa atende a uma necessidade emergente na cidade de Feira de Santana Bahia, com uma população estimada em mais de 525.000 habitantes (DATASUS, 2005) e considerada a segunda mais desenvolvida da Bahia. No entanto com o seu crescimento populacional e econômico cresce também as mazelas sociais: violência, fome, trabalho infantil e baixa qualidade de vida. A UEFS, com o apoio técnico-pedagógico do Curso Licenciatura de Educação Física, em Parceria com outras áreas do conhecimento, desenvolverá o Programa. Que se posiciona buscando preencher uma importante lacuna no que diz respeito aos espaços que favorecem ao desenvolvimento da prática esportiva e de lazer com qualidade administrativa, científica, pedagógica, estrutural e organizacional, objetivando a formação humana do cidadão. O PEAC nasce fruto de um “despertar” de que o esporte e o lazer, manifestações da cultural corporal, são instrumentos eficazes no processo de formação integral do ser humano, especialmente as que se encontram em situação de risco social, ou que de alguma maneira sejam uma minoria excluída de seus direitos como o cidadão. O PEAC é uma ação interdisciplinar e transdisciplinar que envolve a prática esportiva e de lazer com crianças e adolescentes. Interdisciplinar no momento que envolve saberes de diversas áreas de conhecimentos (educação física, serviço social, pedagogia, medicina, enfermagem) e transdisciplinar quando transcende as relações apenas intelectuais e científicas do processo, atribuindo-se o devido valor humano na ação pedagógica.

Todas as etapas mencionadas abaixo estarão inseridas em um projeto de ação e de pesquisa, embasa na metodologia da Pesquisa-Ação. Este método, segundo Dione (2007, p. 43) “nos obriga a examinar a relação recíproca entre o saber e ação”. Neste sentido o pesquisador desempenha um papel que vai além da função de um analista, consultor ou especialista externo a ação. Segundo Betti (2009, 0. 249) a Pesquisa-Ação: “Surgiu com o propósito de investigar nas relações sociais e promover mudanças em atitudes e comportamentos dos indivíduos; muitas vezes este tipo de pesquisa recebe o nome de intervenção, e apresenta várias correntes, mas todas elas envolvem um plano de ação baseado em objetivos, em um processo de acompanhamento e controle da ação planejada e no relato concomitante desse processo”. O PEAC envolve dois projetos: O Projeto de Formação para professores e estagiários e o Projeto Escola de Esporte. O Projeto de Formação para Professores. Este projeto consiste na capacitação de professores(as) e estagiários(as) em Educação Física e áreas envolvidas com o Programa. Garantindo, ainda, a formação continuada de professores da Rede Pública de ensino da cidade de Feira de Santana/Ba. Durante o desenvolvimento deste projeto serão realizados três ciclos de seminários formativos, com o objetivo de socializar e avaliar os saberes produzidos no programa e das experiências docentes da rede pública de ensino. Projeto Escola de Esporte: Este projeto será realizado na Universidade Estadual de Feira de Santana/Ba e desenvolvido com crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, nas seguintes modalidades: Corrida de Orientação, Futsal, Futebol, Vôlei e Handebol. Para o desenvolvimento do Programa foram e serão observadas as cinco etapas da Pesquisa-Ação proposta Neto e Triviños (2004, p. 57): I) Identificação da situação; II) definição dos objetos de pesquisa e da ação; III) planejamento metodológico da pesquisa e da ação e por fim, o processo de concretização da pesquisa: a etapa IV) Realização da Pesquisa e da ação e V) Análise e verificação dos resultados. Destacamos que a identificação da situação já foi realizada em uma consulta preliminar a comunidade em setembro de 2011. Nesta oportunidade foram levantadas as necessidades da comunidade em relação a área de Educação Física, Esporte e Lazer e as contribuições da Universidade Estadual de Feira de Santana para com comunidade. A atividade contou com representantes de diversas instituições localizadas nas comunidades que serão atendidas pelo programa. Após esta consulta junto a comunidade, as informações obtidas foram sistematizadas e a elaboração deste programa já foi articulado com as necessidades da comunidade. As próximas etapas (que se inter-relacionam) serão: 1. Apresentação da proposta final e retomada do diálogo com a comunidade; 2. Ciclo pedagógico de formação continuada de Professores de Educação Física para atuação em programas sociais – Processo voltado para posterior seleção de bolsistas do programa e para formação da comunidade que atua nesta área de conhecimento. 3. Seleção de Bolsistas para atuar no programa – Avaliação de conhecimentos e de currículo. 4. Cadastro dos alunos ao programa: Critérios iniciais: a) Compreender as características definidas no público alvo do programa; b) Comprovar residência nos bairros contemplados pelo programa; c) Atestar condições clínicas para desenvolver atividades esportivas. 5. Início das atividades do Programa 6. Evento Esportivo: socializando aprendizados.

Geral: Implantar escolas esportivas formativas para crianças e adolescentes, buscando transformação social, em uma relação dialógica permanente.

a) Implementar Núcleo de Pesquisa e Extensão em Educação Física, Esporte e Lazer; b) Capacitar os profissionais da rede pública municipal e estadual para qualificação das suas ações na escola ou em outros programas sociais; c) Capacitar interventores do programa (estagiários e profissionais) para ampliação e qualificação das suas ações.

O compromisso social de uma Instituição de Ensino Superior deve transcender apenas as relações voltadas ao desenvolvimento técnico-científico dos conteúdos propostos nas disciplinas acadêmicas. Neste sentido deve fortalecer ações que viabilizem a aproximação entre a universidade e a sociedade, assegurando o compromisso de articulação e troca de saberes com a comunidade externa, contribuindo com a formação humana dos envolvidos e oportunizando assim transformação social. Com o Programa: Encaminhando – Ação Cidadã, a Universidade Estadual de Feira de Santana busca interferir propositivamente na formação humana, esportiva e cidadã, do público envolvido no programa. Inicialmente os bairros contemplados serão: Novo Horizonte, Campo Limpo/Feira VI, Papagaio, Santa Quitéria e George Américo, sendo estes bairros reconhecidamente carentes de programas desta natureza e que abrigam crianças e adolescentes vulneráveis socialmente.