"SOU DOCE, RESPEITOSO E VIBRO COM O RECÉM-NASCIDO E A CRIANÇA: traduzindo e intercambiando ações de promoção de segurança no cuidado em saúde durante procedimentos invasivos na sala de vacinação" #72

Coordenador:
VALESCA SILVEIRA CORREIA
Data Cadastro:
16-04-2023 12:12:40
Vice Coordenador:
-
Modalidade:
Presencial
Cadastrante:
Valesca Silveira Correia
Tipo de Atividade:
Programa
Pró-Reitoria:
PROEX
Período de Realização:
Indeterminado
Interinstitucional:
Não
Unidade(s):
Coordenação de Extensão em Saúde,

Resolução Consepe 114/2022
Processo SEI Bahia 07116548202200242152
Situação Ativo
Equipe 7

O processo de trabalho da equipe de enfermagem pautado no cuidado seguro de recém-nascidos e crianças minimiza danos e promove a qualidade na realização de procedimentos invasivos nos serviços de saúde da rede básica. Neste sentido, este programa de extensão tem como objetivo geral utilizar o modelo de tradução e intercâmbio do conhecimento para fortalecer as ações da equipe de enfermagem na promoção da segurança no cuidado à criança durante procedimentos invasivos nas salas de vacinação. Terá como campo de extensão às unidades básicas de saúde USF Feira X 1, 2, 3, 4 e 5, Centro Social Urbano 1 e 2 no município de Feira de Santana-BA. Será realizada a qualificação da equipe de extensão sobre o modelo da tradução e intercâmbio do conhecimento; sobre a dor e as medidas não farmacológicas durante procedimentos invasivos na administração de imunobiológicos. A seguir, serão realizadas observações locais e sistematizadas visando a identificação de cuidados adotados na prevenção e manejo da dor em recém-nascidos e crianças atendidas nas unidades de extensão. Os dados observados durante a vivência serão discutidos com membros da equipe de enfermagem de cada unidade de saúde por meio de rodas de conversas, nas quais serão identificadas barreiras para a implementação de evidências científicas na prática clínica voltadas para a segurança no cuidado ao recém-nascido e criança na Atenção Primária à Saúde. Assim, a tradução e intercâmbio de conhecimento acontecerá e materializar-se-á em vídeos, podcasts, cartilhas, material educativo, protocolos, algoritmos e bundles relacionados à prevenção e manejo da dor. A avaliação das ações se dará através do monitoramento do uso das estratégias de tradução e intercâmbio de conhecimentos propostas para os cenários de extensão bem como o impacto destas estratégias na segurança do cuidado à saúde do recém-nascido e da criança durante procedimentos invasivos nas salas de vacinação.
A necessidade de proteger indivíduos com o uso de agentes biológicos modificados naturalmente, como no caso da varíola, advém desde o final de século XVII. Posteriormente, surgiram as primeiras vacinas preparadas em laboratório diante da preocupação de pesquisadores com a manutenção da vida das coletividades (APS et al., 2018; LEITE; DORNAS, 2018). Desde a década de 70, com a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), são ofertadas para a população brasileira doses de rotina, reforço, intensificação e campanhas nos serviços de saúde público e privado no Brasil (LEITE; DORNAS, 2018). O Ministério da Saúde (MS) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) elaboram e atualizam periodicamente as diretrizes para a elaboração do calendário básico de vacinação em todas as faixas etárias. No Brasil, os serviços de vacinação da Atenção Primária à Saúde (APS) funcionam como porta principal de entrada para a prevenção de doenças e promoção da saúde das crianças por meio de procedimentos invasivos e dolorosos através de 15 vacinas, tais como Hepatite B e BCG ao nascer, além de vacinas para menores de 5 anos pela via subcutânea (febre amarela 02 doses, tríplice viral 02 doses e varicela 02 doses) e por via intramuscular (pentavalente 03 doses, VIP 03 doses, pneumocócica 10- valente 02 doses e 01 reforço, meningocócica 02 doses e 01 reforço, DTP 02 reforços e Hepatite A 01 dose) (SBIM, 2022; TEIXEIRA, SILVA, BRAZ, 2021). No ano de 2021, foram aplicadas 79.358.954 doses de imunobiológicos no Brasil, sendo que deste total foram aplicadas 25.157.012 doses em crianças menores de 01 ano. Vale destacar que além destas doses, foram administradas 15.707.857 doses na faixa etária de 1 ano de idade e 6.923.786 doses na faixa etária de 4 anos de idade, o que demonstra o maior número de doses aplicadas no grupo populacional de crianças, ainda que este grupo não tenho sido elencado como público-alvo para vacinação contra Covid-19 no ano de 2021 (BRASIL, 2022). Contudo, os números dos vacinados poderiam ser maiores se não houvesse o aumento da recusa vacinal que pode estar relacionada ao contexto cultural, socioeconômico, midiático e religioso, bem como a percepção dos riscos de doenças e à credibilidade nos serviços e profissionais de saúde, além do medo dos eventos adversos pós vacinação associado à falta de conhecimento da população e profissionais de saúde (BALLALAI, 2021). “Em 2015 foram registradas, para cada vacina, em milhões de doses, em torno de 3,1 de D1; 2,8 de D2; e 2,8 de D3. Em 2020 foram registradas ao redor de 2,4 milhões de D1, 2,3 de D2 e 2,2 de D3 para a vacina poliomielite e 2,5; 2,5 e 2,2 milhões de doses para a D1. D2, D3 de penta” (TEIXEIRA, SILVA, BRAZ, 2021, p.77). No período de 2015 a 2020, houve uma queda significativa nas coberturas vacinais no Brasil, as quais “oscilaram entre coberturas de 70% e 90% (abaixo de 95%), excluindo-se as vacinas rotavírus e pneumocócica 10-valente (pneumo-10), em 2018, quando atingiram índices de 91% e 95%, nessa mesma ordem” (TEIXEIRA, SILVA, BRAZ, 2021, p.68-69). Em estudo recente realizado no estado de Minas Gerais, observou-se um decréscimo na cobertura das vacinas contra hepatite A e tríplice viral, o que contribuiu para o ressurgimento de patologias antes superadas como sarampo (SATO, 2018). Vale destacar que no ano de 2020, a cobertura vacinal para a vacina tríplice viral (caxumba, sarampo e rubéola) esteve abaixo da meta estabelecida pelo PNI de 95% em todas as unidades da federação (TEIXEIRA, SILVA, BRAZ, 2021). Tal fato pode estar relacionado à ausência dos pais ou responsáveis com as crianças nos serviços de vacinação por esquecimento da data indicada ou pela desconfiança nos serviços e nos eventos adversos pós-vacinação, bem como pelo desconforto físico e psicológico das crianças e adolescentes diante da dor durante a administração de imunobiológicos (SATO, 2018). Assim, a tradução de conhecimento pautado em evidências confiáveis e seguras pode se configurar numa estratégia eficaz com a adoção de práticas seguras que minimizem a dor e o sofrimento no processo de acolhimento nas salas de vacina e ampliar o acesso à informação sobre medidas não farmacológicas de redução da dor nos procedimentos invasivos que envolvem imunobiológicos. Neste sentido, a utilização de métodos para alívio da dor, redução de estresse e minimização do medo, promovem a qualidade de vida das crianças e de suas famílias na APS. Podem-se citar métodos naturais como o aleitamento materno antes, durante e após os procedimentos, bem como a utilização da crioterapia através de dispositivos vibratórios com bolsa de gelo denominado Buzzy (LEE et al., 2018; REDFERN; CHEN; SIBREL, 2018; ROSA, 2022). Na presente pesquisa será dada ênfase à dor e ao sucesso decorrente da utilização da crioterapia e aleitamento materno na sala de vacinação como método não farmacológico para alívio da dor. A dor é definida como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial” (RAJA et al., 2020). Resulta da ativação de um subconjunto de neurônios sensoriais do sistema nervoso periférico denominados nociceptores (ST, 2018; LOPES, 2003), que são responsáveis pela detecção e transmissão dos estímulos dolorosos (ST, 2018). Estes nociceptores são classificados conforme o tipo de fibra nervosa que constitui sua terminação nervosa. Existem dois tipos de fibras nervosas: nervos de pequeno diâmetro, não mielinizados, que conduzem lentamente o impulso nervoso, designadas fibras C, e nervos de maior diâmetro, ligeiramente mielinizados, que conduzem impulsos nervosos mais rapidamente e designadas fibras A-Delta. Os impulsos neuronais em nociceptores de fibra C, produzem a sensação de dor moderada e retardada e de dor aguda e rápida, na fibra A-Delta (LOPES, 2003; PATEL, 2010). Os nociceptores de fibra C respondem aos estímulos térmicos, mecânicos (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; LOPES, 2003; PATEL, 2010;) e químicos e os nociceptores de fibra A-Delta respondem aos estímulos mecânicos e mecanotérmicos (LOPES, 2003; PATEL, 2010). Há, também os mecanorreceptores, receptores sensoriais que detectam a compressão mecânica ou o estiramento do receptor ou dos tecidos adjacentes ao receptor, e os termorreceptores que detectam alterações da temperatura, tanto do frio, quanto calor (GUYTON, 2011). Os receptores para dor, na pele, quase nunca são estimulados pelo tato ou pressão, porém ficam muito ativos no momento em que os estímulos táteis se tornam intensos o suficiente para lesar os tecidos. O tipo de sensação percebida, quando a fibra nervosa é estimulada, é determinado pela região no sistema nervoso para onde as fibras se dirigem, podendo o estímulo ser elétrico, superaquecimento da fibra, compressão da fibra, ou estimulação da terminação nervosa dolorosa, por lesão das células dos tecidos, percebendo a dor (GUYTON, 2011). Os nociceptores são terminações livres, cujos corpos celulares enviam uma ramificação de fibra nervosa para periferia e outra para medula espinhal (LOPES, 2003; PATEL, 2010). A ativação periférica dos nociceptores (transdução) é modulada por uma série de substâncias químicas, produzidas ou liberadas quando existir lesão tecidual, de origem física, térmica ou química, e a resposta inflamatória que a acompanha resulta na liberação de substâncias (prostaglandinas, K+, H+, serotonina, bradicinina, histamina, prostaglandinas, leucotrienos e substância P) (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; PATEL, 2010) que estimulam as terminações nervosas livres presentes em quase todos os tecidos, gerando potencial de ação que despolariza a membrana neuronal (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Esses neurônios aferentes primários, convertem a energia latente nos estímulos nociceptivos em impulsos nervosos, conduzindo-os até à medula espinhal para serem interpretados pelo cérebro como sensação de dor (LOPES, 2003; PATEL, 2010). Com a estimulação dos nociceptores através das fibras nervosas A-Delta ou tipo C, o estímulo é transmitido à raiz dorsal da medula espinal onde são transferidos aos interneurônios (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; PIMENTA et al. 2017). Em seguida, via tratos espinotalâmico e espinorreticular, a informação dolorosa é encaminhada para a região de tronco cerebral (sistema reticular), tálamo (núcleos talâmicos sensitivos), estruturas do sistema límbico (amígdala, hipotálamo, hipocampo, giro cíngulo) e áreas corticais (córtex frontal, motora, sensitiva); todas essas estruturas estão envolvidas na percepção, apreciação e resposta à dor (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; PIMENTA et al. 2017). Essa é a principal via pela qual a informação da dor e temperatura ascende ao Córtex (PIMENTA et al., 2017). O sistema nociceptivo tem sua atividade modulada pelo sistema modulador da dor, composto de elementos neuronais presentes na medula espinhal, tronco encefálico, sistema límbico, tálamo, córtex cerebral e estruturas subcorticais, que podem inibir ou excitar sinapses que levam a informação dolorosa. Também compõem o sistema supressor de dor os neurotransmissores endorfinas, encefalinas, serotoninas e outros. A ativação do sistema supressor de dor aumenta a síntese desses neurotransmissores que por meio de tratos descendentes que se projetam na substância cinzenta da medula espinal e tratos ascendentes para estruturas encefálicas supratentoriais, exercem atividade inibitória sobre os componentes nociceptivo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Assim, a interação periferia, medula espinhal e estruturas encefálicas, a transmissão do impulso nervoso é modulada, com maior facilitação ou inibição na transmissão. Portanto, a dor será decorrente do desequilíbrio entre os sistemas nociceptivo e supressor de dor (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Sabendo-se que a sensação da dor será ativada por fatores que lesionam os tecidos (GUYTON, 2011), o estímulo para a percepção deste desconforto durante a administração dos imunobiológicos via parenteral, provoca rompimento da proteção natural da pele, estimulando, simultaneamente, terminações de várias fibras para dor. Por sua vez, a teoria do portão, propõe que o estimulo doloroso pode ser inibido na medula espinhal (MELZACK; WALL, 1965). A teoria relata que a transmissão da informação através do ponto de contato (sinapse) entre as fibras nervosas A-Delta e C e as células do corno dorsal possa ser reduzida ou bloqueada, podendo a percepção da dor ser diminuída ou não sentida (PATEL, 2010). A dor pode ser bloqueada por fibras maiores, quando o sinal chega até a medula espinhal, no momento em que estas fibras forem disparadas, havendo abertura do portão, pois as fibras maiores enviam sinais ao cérebro, e as fibras menores seriam impedidas de transmitir a informação. Quando uma fibra não nociceptiva é estimulada, ela ativa um interneurônio que fica no corno dorsal, inibindo a fibra nociceptiva (BASBAUM, 2009). Ocorrendo o estímulo da dor, um impulso é enviado através das fibras nervosas A-delta para a medula espinhal para abrir o “portão da dor” e transmite o sinal de dor ao sistema nervoso central, momento em que a pessoa percebe o estímulo da dor (BASBAUM, 2009) e quando há um estimulo distrativo, como massagear o local do procedimento relacionado à agulha, ativa as fibras A-Beta, que ajudam a fechar o portão da dor, reduzindo efetivamente a transmissão do estímulo da dor (HOLLINS; MCDERMOTT; HARPER, 2014). Uma maneira eficaz de excitar as fibras A-Beta seria a estimulação vibratória (HOLLINS; MCDERMOTT; HARPER, 2014). A teoria do Controle de Portão estipula que o componente de vibração de um dispositivo bloqueia as fibras A-Delta e C ao estimular as fibras A-Beta, ativando um interneurônio inibitório, resultando na redução do sinal de dor transmitido a medula espinal (BAXTER et al., 2011; KAKIGI; SHIBASAKI, 1992). Assim como a dor, a sensação do tato é originada nos receptores cutâneos. Os mecanorreceptores periféricos monitoram o contato com a pele e localizam-se na epiderme, derme e nos tecidos profundos do corpo (PIMENTA et al., 2017). As modalidades sensoriais táteis incluem as sensações de tato, pressão e vibração, sendo esta última o resultado da ocorrência de sinais sensoriais repetitivos e rápidos, sendo usados alguns dos tipos de receptores para o tato e pressão (GUYTON, 2011). Os receptores táteis são envolvidos na detecção da vibração, embora diferentes receptores detectem diferentes frequências de vibração. Os corpúsculos de Pacini podem detectar sinais vibratórios de 30 a 800 ciclos por segundo, porque respondem de modo rápido a deformações mínimas e rápidas dos tecidos, e também transmite seus sinais por fibras nervosas do tipo A-Beta. Esse corpúsculo localiza-se na derme e pode ter 2mm de comprimento e quase 1mm diâmetro, encontrando-se cerca 2.500 corpúsculos em cada mão humana, com maior densidade para os dedos (GUYTON, 2011). Os corpúsculos de Pacini possuem uma cápsula em forma de bola com uma terminação nervosa situada no centro. Quando comprimida, a energia é transferida à terminação sensorial, sua membrana é deformada e os canais mecanorreceptores se abrem. A corrente flui através destes canais e gera um potencial do receptor, despolarizante. Quando a despolarização é intensa, o axônio disparará um potencial de ação e quando a pressão do estímulo é mantida constante, as camadas deslizam e transferem a energia do estímulo e o potencial do receptor se dissipa. Esse estímulo da sensibilidade vibratória ascende ao sistema nervoso central pela coluna dorsal-lemnisco medial ao córtex (PIMENTA et al., 2017). As sensações térmicas não dolorosas surgem nos receptores cutâneos, os quais detectam alterações da temperatura, sendo que alguns receptores detectam o frio e outros detectam calor. Os receptores para dor são estimulados pelos graus extremos de calor ou de frio e, sendo responsáveis, junto com os receptores para frio e calor, pelas sensações de “frio congelante” e “calor extremo” (GUYTON, 2011). Os receptores para frio e para calor se localizam imediatamente abaixo da pele. Na maioria das áreas do corpo, existem entre três e dez vezes mais pontos para frio que pontos para calor. O receptor definitivo para o frio é um tipo especial de terminação nervosa mielinizada fina do tipo A que se ramifica diversas vezes, com suas pontas fazendo protrusão para as superfícies inferiores das células epidérmicas basais. Os sinais são transmitidos desses receptores por meio de fibras nervosas do tipo A-Delta com velocidades de aproximadamente 20m/s (GUYTON, 2011). Contudo, algumas sensações de frio podem ser transmitidas por fibras nervosas do tipo C, o que sugere que algumas terminações nervosas livres também possam funcionar como receptores para este tipo de estímulo sensorial (GUYTON, 2011). Conforme a elevação da temperatura para +10° ou 15°C, os impulsos para dor-frio são interrompidos, mas os receptores para frio começam a ser estimulados, atingindo pico de estimulação em 24°C e diminuindo levemente acima de 40°C. Acredita-se que os receptores para frio e para calor sejam estimulados pelas alterações de suas intensidades metabólicas e que estas resultam do fato de que a temperatura altera a velocidade das reações químicas intracelulares, por mais de duas vezes, a cada alteração de 10°C. Então, a detecção térmica resulta não dos efeitos físicos diretos do calor ou do frio sobre as terminações nervosas, mas sim da estimulação química das terminações modificadas pela temperatura (GUYTON, 2011). Sendo assim, conforme a teoria do portão, a aplicação prolongada de frio 30-60s estimula as fibras nociceptivas C e bloqueia ainda o sinal de transmissão da dor nociceptiva A-Delta quando aplicado próximo ao local de inserção da agulha (BAXTER et al., 2011; BALLARD et al., 2019). Conforme a teoria do controle inibitório nocivo descendente, a intensa aplicação de frio ativa uma modulação supraespinhal, aumentando o limiar de dor geral do corpo, produzindo uma hipoalgesia generalizada no local de inserção (BALLARD et al., 2019; BAXTER, COHEN, 2009; NAHRA; PLAGHKI, 2005). As formas de reduzir a sensação dolorosa são classificadas em métodos farmacológicos e não farmacológicos. Os farmacológicos utilizam medicamentos como anestésicos tópicos, quais não são muitos efetivos porque necessitam de um tempo após aplicação, para obter o efeito analgésico. Ou o anestésico spray qual não é eficaz em todas as faixas etárias (COHEN et al., 2009; COSTELLO, 2006; FARION et al., 2008; MOADAD et al., 2016). Os não farmacológicos incluem vibração (MOADAD et al., 2016), a presença de familiares durante o procedimento (BAGNASCO et al., 2012; GUPTA et al. 2014; UMAN et. al. 2015), vídeos de desenhos animados (BAGNASCO et al., 2012; GUPTA et al., 2014; MACLAREN; COHEN, 2005; SAHINER; BAL, 2016; UMAN et al., 2015), soprando bolhas (SAHINER; BAL, 2016; SPARKS, 2001), cartas distração (AYDIN; SAHINER; CIFTCI, 2016; SAHINER; BAL, 2016), aplicação de compressas quentes e frias (INAL; CANBULAT, 2015) apertar bola (AYDIN; SAHINER; CIFTCI, 2016), e ouvir música (KLASSEN et al., 2008). Segundo um estudo de revisão sistemática, as vacinas são caracterizadas como umas das primeiras experiências dolorosas na infância por crianças saudáveis entre 4 e 15 anos, o que pode gerar traumas futuros com relação aos procedimentos invasivos. Entretanto, a utilização da vibração associada à crioterapia foi mais eficaz na redução da dor, estresse e medo em crianças submetidas a processos de vacinação do que a utilização de cremes anestésicos (LEE, 2018). Outro estudo com crianças e adolescentes de 3 a 18 anos apontou que a utilização da crioterapia com o dispositivo Buzzy promove alívio da dor durante a imunização, apesar de não reduzir a ansiedade em relação ao procedimento invasivo (REDFERN; CHEN; SIBREL, 2018). A utilização de estimulação termomecânica (associação de resfriamento com vibração) através da Buzzy foi demonstrada como método mais eficaz da redução da dor durante procedimentos invasivos para a administração dos imunobiológicos, apesar desta prática não ser comumente utilizada nas salas de vacinação no Brasil e no mundo (LEE, 2018; REDFERN; CHEN; SIBREL, 2018). Neste sentido, a utilização de intervenções não farmacológicas nas salas de vacina proporcionam segurança e qualidade da atenção na APS como o incentivo ao aleitamento materno antes, durante e depois da administração do imunobiológico, bem como a utilização da crioterapia em crianças a partir dos 3 anos de idade que não possuam contraindicações, como lesões de pele ou nervo próximas ao local de administração das vacinas ou patologias associadas à hipersensibilidade ao frio como a Síndrome de Reynaud ou doença falciforme (REDFERN; CHEN; SIBREL, 2018). Além disso, sabe-se que a amamentação se configura com uma intervenção gratuita, não farmacológica e de fácil utilização para o alívio da dor em recém-nascidos e lactantes. Contudo, os profissionais de saúde nas salas de vacina, de acordo com suas crenças restritivas à referida intervenção ou desconhecimento sobre as regulamentações legais e evidências científicas, limitam ou impedem à redução da dor nas crianças por não incentivarem ou apoiarem as mães no ato de amamentar na sala de vacinação (ROSA et al., 2022). Neste cenário, a socialização de conhecimentos verídicos e o incentivo de sua aplicação como via de implementação dos resultados das inovações em saúde, coloca em destaque a tradução do conhecimento como modelo que elabora uma síntese do que está sendo produzido por instituições de ensino e pesquisa com vistas a concretização do intercâmbio de conhecimentos por meio de atividades extensionistas entre academia e serviço (FERRAZ; PEREIRA; PEREIRA, 2019). No tocante a tradução e intercâmbio de conhecimento, a terminologia teve seu significado definido no Canadá no ano de 2000 com o intuito de que haja uma aproximação da produção acadêmica com as necessidades dos usuários e profissionais dos serviços de saúde (VIEIRA; GASTALDO; HARISSON, 2020). A tradução do conhecimento apoia-se no esforço conjunto de pesquisadores e instituições de pesquisa e ensino, em transladar, ou seja, mover o conhecimento produzido por pesquisadores de forma dinâmica para que seja efetivamente utilizado pelos profissionais por meio do planejamento sistemático e execução de atividades pautadas nas melhores evidências científicas auxiliando os gestores na tomada de decisão e elaboração de políticas públicas (FERRAZ; PEREIRA; PEREIRA, 2019). Assim, o encontro partilhado de experiências teóricas e práticas em rodas de conversas, vivências, sessões científicas, dentre outras, possibilitam a criação de espaços de ressignificação de saberes construídos que podem se materializar em produtos como algoritmos, fluxogramas, bundles, cartilhas, procedimentos operacionais padrão, podcasts e vídeos para qualificar a prática profissional da enfermagem aos recém-nascidos e crianças nos serviços de vacinação. A produção do conhecimento científico avança em caráter exponencial e se materializa com o surgimento de drogas, materiais de consumo, produção de novas vacinas, defesas de dissertações e teses acadêmicas apontando melhores modos de cuidar da saúde. Contudo, os profissionais de saúde estão implicados e por vezes sobrecarregados com sua prática cotidiana nos serviços. Neste sentido, a tradução do conhecimento implica a socialização do que está sendo produzido em tempo real pelas universidades e institutos de pesquisa, bem como o acompanhamento e monitoramento do uso adequado das tecnologias e inovações em saúde. A complexidade do cuidado em saúde aumenta o risco de danos aos pacientes. Por isso, um cuidado seguro é condizente com uma atenção de qualidade, com riscos minimizados e eventos adversos mitigados. Neste sentido, alguns protocolos foram estabelecidos pelo MS como segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos; identificação de pacientes; uso seguro de equipamentos e materiais, para traduzir o conhecimento consolidado e comprovado nacional e internacionalmente nos serviços de saúde (BRASIL, 2013). Neste sentido, um ambiente seguro para a criança na APS durante procedimentos invasivos, poderá estimular a ida aos serviços de saúde no que tange os serviços de vacinação e contribuir para o aumento das coberturas vacinais e evitar o ressurgimento de novas epidemias. Assim, a tradução do conhecimento produzidos pelos estudos na Universidade Estadual de Feira (UEFS), proporcionará a disseminação e consolidação de práticas seguras em salas de vacinação tendo em vista minimizar os danos provocados em procedimentos invasivos realizados com recém-nascidos e crianças na APS.
Articulação com a gestão e os serviços de educação permanente das unidades participantes para decidir quanto à programação das atividades. • Constituição de um grupo de trabalho para elaboração e execução da proposta com a participação de discentes e docentes da UEFS e enfermeiros e coordenadores dos serviços de Enfermagem da rede de serviços públicos do município de Feira de Santana-BA. • Seleção de 08 bolsistas para a Tradução do Conhecimento (04 remunerados e 04 voluntários). • Qualificação da equipe de extensão sobre o modelo da tradução e intercâmbio do conhecimento. • Qualificação da equipe de extensão sobre a dor e as medidas não farmacológicas durante procedimentos invasivos. • Qualificação da equipe de enfermagem das unidades participantes da extensão quanto à implementação de intervenções para a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos. • Vivência para identificação das estratégias para a prevenção e o manejo da dor durante a administração dos imunobiológicos em recém-nascido e criança. • Realização de rodas de conversa para socializar os achados da vivência e apresentar as propostas de intervenção para a prevenção e o manejo da dor no recém-nascido e crianças nos cenários analisados. • Realização de rodas de conversa para identificação de barreiras para a implementação de evidências científicas relativas à a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos em recém-nascidos e crianças. • Elaboração das estratégias para a tradução e intercâmbio de conhecimento (vídeos, cartilhas, material educativo, protocolos, algoritmos, bundles) sobre a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos. • Implementação e acompanhamento das intervenções propostas para os cenários de extensão. • Monitoramento do uso e sustentabilidade da manutenção das estratégias de tradução e intercâmbio de conhecimentos propostas para os cenários de extensão. • Avaliação do impacto das estratégias de tradução e intercâmbio de conhecimentos para a segurança no cuidado à saúde do recém-nascido e da criança durante a administração de imunobiológicos.
Utilizar o modelo da tradução e intercâmbio de conhecimento para fortalecer as ações da equipe de enfermagem na prevenção e manejo da dor no cuidado à criança durante a administração de imunobiológicos nas salas de vacinação na APS.
● Identificar as estratégias para a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos em recém-nascidos e crianças na APS. ● Identificar barreiras para a implementação de evidências científicas relativas à prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos em recémnascidos e crianças na APS. ● Elaborar estratégias para a tradução e intercâmbio de conhecimento (vídeos, cartilhas, material educativo, protocolos, algoritmos, bundles) sobre a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos. ● Qualificar a equipe de enfermagem das unidades participantes da extensão quanto à implementação de intervenções para a prevenção e o manejo da dor no recém-nascido e criança durante a administração de imunobiológicos. ● Criar espaço de cuidado e formação profissional qualificado para a implementação de intervenções sustentadas em evidências científicas para a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos. ● Criar espaço para a produção do conhecimento sobre a implementação de intervenções sustentadas em evidências científicas voltadas para a prevenção e o manejo da dor durante a administração de imunobiológicos em recém-nascidos e crianças na APS.
O grupo populacional de recém-nascidos e crianças são mais vulneráveis aos danos proporcionados por procedimentos invasivos como administração de imunobiológicos, testes de triagem neonatal, dentre outros. Tais procedimentos podem gerar dor, estresse e sequelas neste grupo. Com a intenção de promover um cuidado seguro e minimizar os riscos e dores inerentes aos procedimentos invasivos nas salas de vacinação, baseado nas observações das rotinas das equipes de enfermagem nos campos de prática na rede básica, propõe-se este programa de extensão para traduzir e intercambiar conhecimento de acordo com as evidências científicas nos serviços de saúde e assim, fortalecer um cuidado seguro que minimize a dor, pautado na tradução das melhores práticas nacionais e internacionais, como as desenvolvidas nos estudo de Lee et. al. (2018) e Redfern, Chen e Sibrel (2018). Estes autores afirmam que o uso da termomecânica (utilização de frio e vibração ao mesmo tempo), através do dispositivo Buzzy é o método mais eficaz de alívio da dor nos serviços de vacinação, ainda que não seja utilizado em larga escala. Além disso, o estímulo ao aleitamento materno como método não farmacológico para redução da dor durante a administração de imunobiológicos por via parental, configura-se como desafio para ser implementado na rotina dos serviços de imunização, conforme aponta o estudo de Rosa (2022). Neste sentido, este programa propõe um suporte contínuo para os profissionais e gestores, com encontros permanentes para tradução do conhecimento, com vistas a aprimorar a qualidade dos procedimentos invasivos em crianças nos serviços de APS e prevenir a equipe de enfermagem de práticas inseguras, contribuindo para a gestão de políticas públicas de imunização por meio de boas práticas de vacinação.

Histórico de movimentação
16-04-2023 12:12:40

Criação da proposta

16-04-2023 21:50:33

Parecer da Câmara de Extensão

Programa aprovado
16-04-2023 21:35:24

Em Análise

Proposta enviada para análise da Câmara de Extensão
16-04-2023 21:50:33

Aprovado

Programa aprovado
16-04-2023 21:50:56

Ativo

Habilitado para pedido de bolsa extensão
v1.4.12
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