LER-SE NEGRA: GRUPO DE ESTUDOS E LEITURAS DAS ESCRITAS DE MULHERES NEGRAS #80
- Coordenador:
- Edna Ribeiro Marques Amorim
- Data Cadastro:
- 16-04-2023 21:52:15
- Vice Coordenador:
- -
- Modalidade:
- Presencial
- Cadastrante:
- Renailda FERREIRA CAZUMBÁ
- Tipo de Atividade:
- Projeto
- Pró-Reitoria:
- PROEX
- Período de Realização:
- 01/02/2021 - 30/12/2024
- Interinstitucional:
- Não
- Unidade(s):
- Departamento de Educação,
Resolução Consepe
068/2022
Processo SEI Bahia
07134422022000635690
Situação
Ativo
Equipe
6
O Ler-se Negra: Grupo de Estudos e Leituras das Escritas de Mulheres Negras é uma atividade de extensão que objetiva o incentivo e a formação de leitoras(es), apreciadoras(es) e divulgadoras(es) da produção literária e intelectual de mulheres negras, direcionado a professoras(es), estudantes, técnicos e funcionários da UEFS, bem como professoras(es) e estudantes de escolas públicas da Educação Básica ecomunidade externa. As ações do projeto inserem-se nos pressupostos teóricos de enfrentamento ao Epistemicídio (CARNEIRO, 2005) no quetoca à contribuição africana e afrobrasileira nas áreas de literatura e do pensamento sociológico e filosófico que se erige, especialmente, às margens dos padrões estabelecidos pelo cânone literário dominante e as epistemologias eurocentradas. Baseando-se nos modelos estéticos da Literatura Afro-brasileira e Negro-brasileira, especialmente, da literatura negra feminina, e nos parâmetros intelectuais do feminismo afrolatinaomaericano (Lélia González, 2020) intentamos criar condições e práticas de uma educação antirracista, mobilizando leitoras e leitores para interagir com a produção literária e intelectual das mulheres negras como Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Neusa Santos, Sueli Carneiro, Lélia González, bell hooks, Chimamanda Ngozi Adichie, Paulina Chiziane Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Esmeralda Ribeiro, Jovina Souza, Cidinha da Silva, dentre outras, para interferir positivamente na formação do professores de letras e pedagogia que reverberem em ações na Educação Básica e na comunidade de Feira de Santana e região. No âmbito da Universidade, o Projeto possui configuração interdepartamental, envolvendo os Departamentos de Educação (DEDU) e de Letras e Artes (DLA) da UEFS através de encontros formativos mensais entre as (os) participantes do grupo de estudos e leituras, e no âmbito da Educação Básica envolverá as escolas públicas de Feira de Santana e região por meio da proposição de círculos de leituras e intervenções através de material didáticopedagógico e conteúdos digitais em redes sociais do projeto. No que se refere à atuação fora da Universidade e escolas, o projeto buscará parcerias com clubes e entidades ligadas ao incentivo e divulgação literária, visando mobilizar sujeitas e sujeitos leitores que participem de entidades e esferas sociais negras e afro-brasileiras. A ausência da leitura e apreciação das literaturas e produção intelectual de mulheres negras na educação corrobora para o racismo estrutural e a colonialidade nas práticas de leituras da sociedade, impedindo que histórias das pessoas negras sejam contadas para seu próprio grupo sociocultural. Dessa forma, são necessárias propostas de conhecimento dessa literatura na escola pública, o que toca diretamente na formação do professor e da professora. Neste sentido, o projeto direciona-se para o estudo e apreciação das práticas de escritura das mulheres negras, adotando o referencial teórico e bibliográfico afrocentrado que conduza à discussão sobre literatura, negritude e feminismos negros. Os círculos de leitura mensais serão formativos e direcionados a graduandos da UEFS, professores da UEFS, educadores da Educação Básica. Além da leitura e discussão de obras literárias e ensaios teóricos, daremos ênfase à criação de conteúdo virtual em página do Projeto no Instagram e em Canal no Youtube, visando divulgar obras e autoras, socializaros resultados da ação extensionista e alcançar um público leitor diversificado
O projeto direciona-se para promover a valorização, incentivo, apreciação e estudo das produções escritas realizadas por mulheres negras, adotando o referencial teórico e bibliográfico afrocentrado tanto da literatura como do pensamento filosófico, sociológico e antropológico, envolvendo as questões de gênero, raça e classe nas discussões do e provocadas pelo grupo. Sendo uma atividade de mobilização da leitura da literatura negra e a formação de leitores e leitoras com um olhar crítico antirracista, com base na concepção de literatura negra afro-feminina, escolhemos as obras teóricas e literárias que nos ajudarão a valorizar, apreciar e analisar os textos das autoras amefricanas. Ancoradas nas contribuições teóricas sobre a autoria negra feminina com Miriam Alves (2010) e Ana Rita Santiago (2012) e Lívia Natália 2011), consideramos que a literatura negra feminina representa um espaço representativo que subverte a linha hegemônica excludente dentro do âmbito do espaço literário, que envolve as editoras e a divulgação das obras, de forma que as mulheres escritoras negras têm atuado de forma específica para romper com o silêncio em torno da produção escrita. Também, consideramos importante a discussão e análise das escritas tóericas e folosóficas de Sueli Carneiro, Angela Davis, bel hooks, Djamilla Ribeiro e Carla Akotirene como pontes para a compreensão dos femininsmos negros e lastros para a solidificação de uma educação antirracista e afrocentrada. Neste sentido, nos aproximamos das ideias da poeta e militante negra caribenha Audre Lorde (2019) por esta considerar importante escrever como formas de recompor as experiências da vida e a forma de romper os silêncios impostos às mulheres, sobretudo, as negras. A escrita da mulher negra, para Audre Lorde, significa uma “destilação reveladora da experiência”, tem o sentido político de recompor de nosso apagamento e não apenas jogo de elaboração da linguagem. Desta forma, a literatura e pensamento filosófico e teórico das mulheres serão estudados com base nos conceitos de “escrevivência” de Conceição Evaristo e de “epistemicídio” de Sueli Carneiro balizam o enfoque teóricometodológico de análise dos objetos/sujeitos dos estudos e leituras de mulheres negras. Ainda a noção de “Interceccionalidade” cunhada por Kimberlé Crenshaw em 1989 e que abarcam os atravessamentos de gênero, classe e raça para a compreensão da condição da mulher negra na sociedade brasileira, serão as categorias que mobilizam as discussões do grupo. Na obra Irmã Outsider (2019), Audre Lorde, proclama a necessidade da mulher de dizer, verbalizar e compartilhar seus pensamentos e sentimentos mesmo que se corra o risco de ser “magoada e incompreendida”. Nos questiona se, diante das opressões diárias que nos calam, estamos fazendo nosso trabalho de transformar o silêncio em ação. A autora defende a nossa necessidade vital de falar, de agir através da palavra. Verbalizada, a palavra torna-se uma ação necessária que recompensa e evita o adoecimento. Transformar o silêncio em linguagem e ação, entretanto, envolve riscos, pois “é um ato de revelação individual, algo que está sempre carregado de perigo” (LORDE, 2019, p. 51). No mesmo percurso da defesa de Audre Lorde, ao teorizar a autoria negra feminina, Miriam Alves destaca o papel político da escrita na vida das mulheres negras: “Ser mulher e escritora no Brasil é romper com o silêncio, a “não-fala” e transpor os espaços que definem procederes e funções preestabelecidas” (ALVES, 2011, p. 183). Para todas mulheres, de acordo com Miriam Alves, transpor os limites do “lar” foi um ato de ousadia, pois a sociedade patriarcal e machista sempre considerou que a mulher vivesse confinada ao lar, para que o corpo da mulher, objeto de posse masculina, estivesse disponível para a “mediação da fala do desejo” e exercida pelo homem. Na tradição da literatura brasileira branca e eurocêntrica, garante Miriam Alves, o ser mulher foi retratado como submisso, e quando era representada com alguma altivez, as mulheres eram retratadas como prostitutas, ou seja, como aquelas que não pertenciam ao lar e não eram respeitáveis. Enquanto escritoras, também sofriam rebaixamentos, pois a literatura escrita por mulheres foi chamada de “intimista”, de acordo com Miriam Alves, “talvez por abrir frestas, janelas e portas, escancarando para o exterior os sons da “não fala”, profanando o confinamento do silêncio” (p. 123). O ato de escrever se configura, portanto, um rompimento do silêncio e uma fenda aberta nos espaços de confinamento aos quais foram confinados os corpos das mulheres. Voltando a Audre Lorde, mulher lésbica, ativista defensora dos direitos das mulheres, que viveu na pele os silenciamentos impostos às vozes das mulheres negras subalternizadas, defende que, no caso das mulheres negras, precisamos romper o silêncio para que se conquistemos a liberdade. Para a autora citada, para nós mulheres, “a poesia não é um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência” (2019, p. 45). Ao falar do papel da literatura na vida das mulheres que nascemos com papeis definidos pela sociedade patriarcal e racista como a que vivemos, Audre Lorde defende que a necessidade da literatura em nossa vida, e a poesia, de forma específica, cria para nós mulheres: “Ela cria o tipo de luz sob a qual baseamos nossas esperanças e nossos sonhos de sobrevivência e mudança, primeiro como linguagem, depois como ideia, e então como ação mais tangível” (p.45). A poesia é, então, uma forma de agirmos e intervirmos socialmente, criando espaços de respiro, luta e transformação, no qual, segundo Lorde, e com a qual “nos valemos para nomear o que ainda não tem nome, e que só então pode ser pensado” (p.45), com a qual podemos “pavimentar” os horizontes longínquos com esperanças e medos. Escritoras, filósofas e pensadoras negras são coautoras de si nesse processo de escrita, e a partir da escrita literária afirmaram um sentido ético para si próprias: aprenderam a ler e escrever a despeito das estratégias discriminatórias e excludentes, através dos diversos “letramentos de reexistências” (SOUZA, 2011), a partir dos quais “reescrevem as histórias mal escritas” sobre nós mulheres negras do terceiro mundo (ANDALZÚA, 2000, p. 232) e transformaram-se em autoras e produtoras de literatura. Por este motivo, Daniela Galdino vê coincidência entre a trajetória de Celeste Bastos à caminhada da escritora Carolina Maria de Jesus, que durante 40 anos também acumulou escritos em casa porque não acredita na possibilidade de reconhecimento de seus textos; como Carolina que juntou papéis escritos, escreveu literatura a partir desse lugar lança o olhar crítico para a existência periférica e compõe um texto indignado, mas que também compôs uma literatura em que cabiam seus desejos e sonhos e muitas histórias que ultrapassavam a temática da questão social, parte dela publicada da coletânea Meu sonho é escrever … contos inéditos e outros escritos, organizada por Raffaela Fernandez (2018). Uma das marcas mais fortes dessa estética afrofeminina, conforme explica Lívia Natália, “é o abrandamento das alegorias, figuras de imagem calcadas na comparação complexa, em favor das metáforas, símiles, catacreses, assonâncias, aliterações e ironia. As imagens construídas se propõem a construir uma leitura possível do mundo, tornando-o condizente com o olhar diferenciado que sobre ele se lança” (SANTOS, 2011, p. 122). Para a escritora e professora baiana, a mulher negra escreve carregando o texto de suas lutas e não reluta diante de uma linguagem que traduza as necessidades e urgências de mudanças nas representações do feminino, “prioridades éticas e políticas que constam na agenda do dia de muitas mulheres negras brasileiras”, segundo afirma a poeta e professora Lívia Natália. Para esta autora citada, as mensagens da literatura negra feminina, “engendram um sentimento de limite, de exaustão, de alcance do limite do tolerável e da inviabilidade da manutenção das relações entre os arquétipos femininos e masculinos” (p.122). As autoras que leremos nos encontros formativos mensais e nas propostas de leitura com leitoras e leitores nos círculos e encontros de leituras que propomos, seguem as fendas de insubmissão abertas pela literatura de Conceição Evaristo, Maria Firmina dos Reis, Geni Guimarães, Miriam Alves, Lia Vieira, Esmeralda Ribeiro, Cristiane Sobral, Mel Adún e seguidas por Lívia Natália, Rita Santana e tantas outras autoras ainda desconhecidas e com público leitor restrito. Neste sentido, pensamos ainda a interação desses leitores jovens com o texto de autoria negra, poderia, sobretudo, abalar os mecanismos e dispositivos de exercício de poder e controle reforçados nos espaços de institucionalizados como escolas, bibliotecas e materiais didáticos e de leitura, predominam o incentivo à leitura do texto canônico e, em sua maioria, escritos por homens brancos sis héteros. O cânone literário é homogeneizado e composto por autores, segundo Regina Dalcastagnè (2012, p. 14), “parecidos entre si, como pertencem a uma mesma classe social, quando não tem as mesmas profissões, vivem nas mesmas cidades, tem a mesma cor, o mesmo sexo [...]”, precisa ser ampliado e diversificado, principalmente, a partir da inclusão de autoras negras e LGBTQIA+. A pesquisadora citada enfatiza que o cânone traduz as formas de interdição imposta às escritoras e escritores das diferentes etnias e extratos sociais subalternizados do país, como as autoras negras, indígenas e nordestinas, por exemplo, que são invisíveis ao mercado editorial do sudeste e sul do país. Ainda de acordo com Dalcastagnè, para romper com este ciclo de interdição seria preciso trazer para o contexto da literatura outras experiências de vida e dicções distintas que traduzem a diversidade da cor da pele, do gênero e da classe social que caracteriza a sociedade brasileira. De tal modo, no caso da Bahia, seria preciso ampliar o repertório dos leitores e leitoras para conhecer o vasto repertório e a heterogeneidade das escrevivências de autoras negras ainda inviabilizadas, como Celeste Bastos, Alessandra Sampaio, Jaquinha Nogueira, Yasmim Morais, Thaíse Santana, Júlia Suzarte, Líliam Almeida, Aidil Lima, Jovina Souza. Acessar novos leitores a partir dessa literatura seria o desafio, pois torna-se necessário mudar os critérios de escolha das obras e o reconhecimento das autorias vindas de extratos sociais periféricos. Diante da Lei 10.639/03, que institui a obrigatoriedade de abordar a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos escolares da Educação Básica, a literatura negra feminina representaria o respaldo e garantia de efetivação desta lei nos espaços escolares, pois as autoras negras abordam, em suas obras, as questões que tocam de forma direta a história, ancestralidade, o racismo e a condição da mulher negra na sociedade brasileira. Na formação dos programas e ementas dos cursos de licenciatura em Letras ainda há um déficit das leituras consideradas essenciais para a formação do professor, o que interfere diretamente na rede de ensino básico, já que a formação profissional repercute na forma como os professores escolhem as obras literárias e interferem na educação literária de jovens leitores. Nos aproximamos do conceito e modelo estético da “escrevivência”, cunhado por Conceição Evaristo, pois este reflete a escrita literária das mulheres negras em sociedades multirraciais como as latino-americanas. Tal estética, segundo Conceição Evaristo é contaminada pelas vivências das mulheres negras na diáspora e reflete a dupla condição de mulher e negra ao mesmo tempo em sociedades racistas como a nossa: A escre(vivência) das mulheres negras explicita as aventuras e as desventuras de quem conhece uma dupla condição, que a sociedade teima em querer inferiorizada, mulher e negra. Na escrita busca-se afirmar a duas faces da moeda num único movimento, [...] EVARISTO, 2005, p.6). Dessa forma, as vozes das mulheres e dos escravizados, que ora interrompem a narrativa do romance entre Úrsula e Tancredo, ora dão mais fôlego ao ritmo de sua narrativa através da narração de Suzana, são contaminadas pela voz do narrador onisciente do romance que denuncia a escrevivência de Maria Firmina dos Reis, da maneira como pontua Conceição Evaristo. Às escritoras negras declara Evaristo, “cabem vários cuidados”, pois “ao assenhorear-se ‘da pena’, objeto representativo do poder falocêntrico branco”, essas escritoras buscam “inscrever no corpus literário brasileiro imagens de uma auto-representação” (EVARISTO, 2005, p. 6). Tais escritoras, de acordo com Evaristo, buscam romper os estereótipos erigidos em romances que representaram a mulher negra como antimusas da sociedade brasileira, nas personagens Bertoleza, Rita Baiana e Gabriela dos romances O cortiço (1881) de Aluísio de Azevedo e Gabriela, cravo e canela de Jorge Amado, respectivamente, caracterizadas: “[...] por uma animalidade como a de Bertoleza que morre focinhando, por uma sexualidade perigosa como a de Rita Baiana, [...] ou por uma ingênua conduta sexual de Gabriela, mulher -natureza, incapaz de entender e atender determinadas normas sociais” (Idem, p. 3).
As ações do projeto serão efetivadas a partir das seguintes frentes de atuação: 1. Encontros formativos mensais objetivando o compartilhamento e acolhimento de leitoras e mediadoras da literatura de mulheres negras; 2. Círculos de leitura e atividades pedagógicas da literatura de autoras negra, em escolas de educação básica, realizadas pelas integrantes e bolsistas e voluntárias de monitoria de extensão pela PROEX-UEFS; 3. Criação de conteúdo virtual para disseminação e acolhimento de leitores e leitoras sobre essa literatura (em páginas no Instagram e Canal no Youtube) através de cards e vídeos. 4. Cursos de escrita criativa (escrevivências) envolvendo as participantes para compor um livro de narrativas em primeira pessoa. No âmbito da Universidade Estadual de Feira de Santana, o projeto possui configuração interdepartamental, envolvendo os Departamentos de Educação (DEDU) e de Letras e Artes (DLA), promovendo encontros formativos mensais de oito (08) horas, sendo que quatro (04) horas, acontecendo uma (01) vez ao mês entre as (os) participantes do grupo para o compartilhamento de leituras de obras e encontros quinzenais e quatro (04) horas de estudo e planejamento, com data previamente marcada em cronograma disponibilizado no grupo. Nesses encontros, serão realizadas exposições orais, círculos de diálogos, discussão teórica sobre as temáticas com projeção de vídeos, documentários, leitura de textos e, ocasionalmente serão realizados encontros com autoras referentes ao conteúdo da literatura e feminismo negro. No contexto da Educação Básica envolverá 02 (duas) escolas públicas de Feira de Santana e microrregião por meio da proposição de oficinas e círculos de leituras e material didático-pedagógico, como pesquisa e registro das trajetórias de vida das autoras e pensadoras. O projeto instiga os participantes a se envolverem não apenas com a leitura e recepção, mas também com escrita de textos. Assim, nos encontros formativos e círculos de leitura entre as participantes e, ainda, integrantes da escola básica (estudantes e professores), mobilizaremos os encontros de escrita criativa de escrevivências dos encontros para compor um livro de narrativas em primeira pessoa nos semestres de 2023, a ser ministrados por autoras e pesquisadoras convidadas. Neste caminho, serão apresentadas escritoras como Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo, Geni Nascimento, Miriam Alves, Cristiane Sobral, Rita Santana, Lívia Natália e intelectuais como bell hooks, Sueli Carneiro, Neusa Santos, Beatriz Nascimento, Lélia González, Djamila Ribeiro, dentre outras, que com o trabalho que desenvolvem rasuram este lugar hegemônico do cânone, propondo escritos de intervenção contra-hegemônica, estabelecendo aos poucos um espaço de direito para a literatura feminina negra nas prateleiras das editoras e na recepção de leitoras e leitores No contexto virtual, intentamos criar e publicar conteúdos digitais nas redes sociais do projeto, de forma lúdica e interativa, na página do Instagram (#lersenegra) e canal do Youtube, com material de leitura sobre obras, biografias de autoras negras e vídeo de divulgação de obras da literatura e também da chamada literatura infantil e juvenil negra.
Promover a valorização, incentivo, apreciação e estudo das produções escritas realizadas por mulheres negras, através da realização de encontros formativos de estudos e compartilhamento de leituras, círculos de leitura e conteúdo digital da produção literária e intelectual de mulheres negras, com ênfase no protagonismo de escritoras brasileiras, visando construir identidade e práticas de leitura afrocentradas que tornem possível criar e reinventar as formas de conhecimento e apreciação da literatura e do pensamento teórico das negras e, com isto, construir propostas antirracistas no âmbito da UEFS, na educação básica e em outros espaços formativos.
- Acessar e visibilizar a literatura e o pensamento intelectual de mulheres negras, visando construir práticas de leitura/escrita afrocentradas;
- Acolher e envolver mulheres para conhecer, experienciar e partilhar a os saberes construídos por mulheres negras, visando potencializar identidades e trajetórias negras resinificadas;
- Instigar em encontros formativos subjetividades insurgentes aos padrões literários estabelecidos como brancos, hetero-normantivos e eurocêntricos através da leitura da literatura e textos teóricos de escritoras/pensadores negras;
- Estimular a escrita de narrativas dos encontros, visando compor uma publicação de escrevivências as leitoras do grupo;
- Disseminar e o texto literário e pensamento dos feminismos negros no âmbito da Universidade, na Educação Básica e comunidade externa com a criação de e-book com narrativas e memórias de leituras das obras lidas pelo grupo, através dos círculos de leitura e em outros espaços formativos através de estudantes bolsistas e voluntários;
- Realizar círculos de leitura e divulgação de material didático-pedagógico em escolas da Educação Básica da microrregião de Feira de Santana;
- Produzir referencial teórico-crítico sobre o texto literário e pensamento feminista negro no âmbito da Universidade que possa interferir na proposta didático-pedagógica e dos cursos de Letras e Pedagogia da UEFS, com o envolvimento de bolsistas de Iniciação Científica e de estudantes de pós-graduação;
- Divulgar e mediar ações de leitura da literatura de autoras e feministas negras através da produção de conteúdo digital em canal no Youtube e página no Instagram (@lersenegra).
A ausência de leituras e apreciação das literaturas de mulheres negras na educação e em outros espaços formativos corrobora para o esquecimento e a colonialidade nas práticas de leituras da sociedade, impedindo que histórias de pessoas negras sejam contadas para seu próprio grupo sociocultural. Dessa forma, o projeto de extensão do LER-SE NEGRA: Grupo de Estudos e Leituras das Escrituras de Mulheres Negras pretende romper com a linha de narrativas hegemônicas através de discussões construtivas e desconstruías que não se submeta aos padrões literários através de estudos, discussão e apreciação de textos e obras de autoras brasileiras, afrolatinoamericanas e africanas, através de encontros mensais, círculos de leitura nas escolas e produção de material de leitura virtual, visibilizando escritas de mulheres negras para um fortalecimento das redes socioafetivas e acadêmicas. Há também uma carência de ações e materiais de leituras afrocentradas que englobem estudantes e professores a Educação Básica, e enquanto um dos principais espaços de desenvolvimento de indivíduos sociais, enfrenta-se a problemática do apagamento da produção intelectual de mulheres negras e não se impulsiona o interesse de estudantes negros para com sua própria história. Em síntese, há a necessidade de divulgação e coprodução de conteúdo e conhecimentos sobre a literatura e pensamentos feministas afrocentrados nas escolas de educação básica. De tal modo, no caso da Bahia, seria preciso ampliar o repertório dos leitores e leitoras para conhecer o vasto repertório e a heterogeneidade das escrevivências de autoras negras ainda inviabilizadas, como Celeste Bastos, Alessandra Sampaio, Jaquinha Nogueira, Yasmim Morais, Thaíse Santana, Júlia Suzarte, Líliam Almeida, Aidil Lima, Jovina Souza. Acessar novos leitores a partir dessa literatura seria o desafio, pois torna-se necessário mudar os critérios de escolha das obras e o reconhecimento das autorias vindas de extratos sociais periféricos. Diante da Lei 10.639/03, e a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos escolares da Educação Básica, a literatura negra feminina representaria o respaldo e garantia de efetivação desta lei nos espaços escolares, pois as autoras negras abordam, em suas obras, as questões que tocam de forma direta a história, ancestralidade, o racismo e a condição da mulher negra na sociedade brasileira.
Histórico de movimentação
16-04-2023 21:52:15
Criação da proposta
16-04-2023 22:21:47
Parecer da Câmara de Extensão
Projeto aprovado
16-04-2023 22:09:11
Em Análise
Proposta enviada para análise da Câmara de Extensão
16-04-2023 22:21:47
Aprovado
Projeto aprovado
16-04-2023 22:22:13
Ativo
Habilitado para Pedido de BOLSA EXTENSÃO