FLIFS: FEIRA DO LIVRO/FESTIVAL LITERÁRIO E CULTURAL DE FEIRA DE SANTANA #89
- Coordenador:
- Rita de Cassia Brêda Mascarenhas Lima
- Data Cadastro:
- 11-05-2023 15:27:39
- Vice Coordenador:
- -
- Modalidade:
- Presencial
- Cadastrante:
- Rita de Cassia Brêda Mascarenhas Lima
- Tipo de Atividade:
- Programa
- Pró-Reitoria:
- PROEX
- Período de Realização:
- 01/09/2023 - 01/09/2025
- Interinstitucional:
- Sim (Arquidiocese de Feira de Santana, Secretaria da Educação do Estado da Bahia – Núcleo Regional de Educação (NTE 19), Fundação Pedro Calmon, Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana, Serviço Social do Comércio de Feira de Santana–SESC e, IFBA – Campus Feira de Santana.)
- Unidade(s):
- Pró-Reitoria de Extensão,
Resolução Consepe
127/2023
Processo SEI Bahia
0000000000000
Situação
Ativo
Equipe
16
A FLIFS (Feira do Livro/Festival Literário e Cultural de Feira de Santana) nasceu da mobilização de educadores em prol de um projeto continuado de formação de leitores, em Feira de Santana, região estratégica para a compreensão da cultura popular sertaneja. A primeira edição foi realizada em 2008, na Praça Padre Ovídio, no coração da cidade. Anualmente, o evento reúne, em praça pública, centenas de crianças, jovens, adultos, idosos e os mais diversos grupos socioculturais. O encontro entre a sociedade e o universo literário é mediado por múltiplas linguagens artísticas, como cinema, música, teatro, circo, dentre outras manifestações complementares. Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia (Lei 13.934/18), a FLIFS pretende mobilizar e ampliar as possibilidades de acesso à leitura e ao livro, como forma de inclusão social, em toda a Região Metropolitana de Feira de Santana (RMFS). O festival literário feirense reafirma a leitura como ferramenta poderosa na formação do indivíduo, incentivando e celebrando a literatura na Princesa do Sertão. Por isso, dedica parte de sua programação voltada aos jovens leitores, com a Flifinha tem foco na formação de plateias infanto juvenis, através das mais diversas linguagens (teatro, música, oficinas, contação de histórias, conversas e mesas literárias com a participação de autores mirins). Em 2023, acontecerá a 16a edição, entre os dias 26 de setembro a 01 de outubro, na Praça Padre Ovídio em Feira de Santana. O tema será “Literatura e sertão: o bicentenário da Independência da Bahia no Brasil” e serão homenageados o feirense Juraci Dórea, escritor e artista multifacetado, e no espaço dedicado à literatura popular, o poeta radicado em Feira de Santana Chico Pedrosa, que nominará a Praça do Cordel.
A sociedade contemporânea, além de hierarquizar as atividades de ler e escrever, sanciona a ideia de que “escrever é produzir o texto; ler é recebê-lo de outrem sem marcar aí o seu lugar, sem refazê-lo” (CERTEAU, 2011, 240). A perspectiva de compreender o “ato de ler” como uma prática cultural, tem sido a base sobre e em torno da qual estudiosos estrangeiros e nacionais têm desenvolvido, nas últimas três décadas, suas pesquisas sobre a história da leitura e as diferentes maneiras de ler encontradas em momentos e contextos históricos e sociais diversos, ao longo da história da humanidade. Em 1980, Michel de Certeau descreveu a leitura como "uma operação de caça furtiva" (id., ibd), rejeitando a definição dessa prática cultural como imagem da passividade; ao contrário, afirma se tratar de uma atividade de apropriação e de produção independente.
Os historiadores culturais do livro foram pioneiros na adoção dessa abordagem e os responsáveis pela delimitação do campo de estudos da História Cultural, com destaque para o trabalho desenvolvido por Roger Chartier. Partiram da análise do livro para a compreensão da história da leitura associada a análise de como os textos eram materializados e circulavam numa determinada sociedade para, então, descreverem os possíveis e diferentes modos de apropriação de que eram suscetíveis esses textos. Com o objetivo de apreender, a partir da forma material dos objetos culturais, alguns indícios de sua apropriação pelas sociedades que não exerciam as mesmas práticas de leitura que nos são tão familiares atualmente, Roger Chartier, em ‘Inscrever e apagar’ (2007), reflete sobre as representações das práticas de escrita, inscritas no texto literário, compreendendo as obras literárias como fontes históricas para a apreensão de objetos e práticas que pertencem à cultura escrita de seu tempo.
Tanto Chartier quanto Certeau levantam preocupações e análises acerca da leitura que podem ser consideradas pelos diferentes modos de ler e os distintos protocolos de leitura apontados pelos textos e pelas condições sociais em que eles são lidos. Esse processo, mais uma vez, sugere a existência de leituras múltiplas, contrastantes seja na forma como é realizada - silenciosa ou em voz alta, privada ou em praça pública, individual ou coletiva -, ou, também, nos significados atribuídos ao texto e nos fins pretendidos ao realizar a leitura dele.
Para deslocar, assim, a fronteira traçada entre a Literatura, tida como um domínio particular de criações e de experiências, e as produções e práticas mais ordinárias da cultura escrita é necessário aproximar o que a tradição ocidental separou durante muito tempo: de um lado, a compreensão e o comentário das obras; de outro, a análise das condições técnicas ou sociais de sua publicação, circulação e apropriação. (CHARTIER, 2007, p. 8).
O modo como se opera a apropriação ou o consumo cultural marca as particularidades e os mecanismos próprios que os sujeitos, no seu cotidiano, usam para burlar, golpear e driblar os interesses e as malhas de poder que os envolvem diariamente através dos produtos culturais que acessam. No programa de televisão, no livro de sala de aula ou de cabeceira estão cristalizadas marcas de interesse e a instituição de desejos de dominar, controlar, determinar lugares fixos na sociedade. Mas por trás desses “dispositivos sociopolíticos”, como assim os chama Certeau, “[...] por trás do cenário teatral dessa nova ortodoxia se esconde (como já acontecia ontem), a atividade silenciosa, transgressora, irônica ou poética de leitores (ou telespectadores) que sabem manter sua distância da privacidade e longe dos ‘mestres.’” (CERTEAU, 2011, 244)
Em a “A aventura do livro, do leitor ao navegador” (2002), especificamente no capítulo O leitor entre limitações e liberdade (p. 75-95), a discussão gira, dentre outros pontos, em torno da leitura enquanto produção de significados, pois para Chartier, leitura será sempre apropriação, invenção. Toda história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. No entanto, esta liberdade leitora não é absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Do antigo rolo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler (p. 77). A história das práticas de leitura tornou-se também uma história da liberdade na leitura.
Michele Petit (2008), descreve duas vertentes da leitura. Baseando-se em pesquisas anteriores, a a autora destaca que a leitura silenciosa, introspectiva, solitária, é relativamente recente nos meios rurais franceses. Essa prática, aparentemente, foi posterior à leitura coletiva realizada em família, durante o catecismo ou em internatos. Fase essa que é, segundo a autora, característica da época em que havia uma grande manipulação e um controle rigoroso dos textos escritos, de modo que os livros, os textos e a escrita demonstrassem domínio, superioridade e poder. Sobre isso, ainda, lembra que “manipular a escrita permite aumentar o prestígio junto a seus semelhantes.” (id., ibd., p. 25). De outro modo, menciona que por mais que haja esforços para manter a manipulação sobre os demais a partir da escrita, assim que as pessoas fizerem a leitura, inevitavelmente, se apropriarão dos textos, dando-os outro significado, mudando seu sentido, interpretando-os de outras formas. Destarte, a leitura passa a ser uma afirmação de singularidade, podendo servir, também, como uma fuga do tempo e do espaço em que o leitor se encontra. Ainda segundo a autora, vislumbra-se uma perspectiva de leitura como independência do ser humano, como autonomia, como construção de si mesmo, de modo que mesmo que a leitura não faça de nós escritores, ela pode, por um mecanismo parecido, nos tornar mais aptos a enunciar nossas próprias palavras, nosso próprio texto, e a ser mais autores de nossas vidas. (PETIT, 2008, p. 37).
Mas, como proceder para o desenvolvimento do gosto da leitura e, ainda, como ampliar o repertório de leituras, em especial, do público da FLIFS? Para além do conceito de leitura e as formas como o texto literário é apropriado/consumido pelo leitor/a, há de se destacar o conceito de letramento literário nesse processo de formação. De acordo com Magda Soares (2004), a palavra letramento, assim como o seu conceito, é algo recente no Brasil. Foi introduzido na linguagem da Educação e das Ciências Linguísticas recentemente. O conceito, que ainda soa como novidade para muitos, tem sido amplamente difundido, ocupando espaço nos cursos de formação de professores e em pesquisas acadêmicas e no meio escolar, em especial nas três últimas décadas.
O letramento se mostra indissociável da vida em sociedade, por isso, seu surgimento se deu pela necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassassem o domínio do sistema alfabético e ortográfico. Esses comportamentos e práticas sociais de leitura e de escrita foram adquirindo visibilidade e importância à medida que a vida social e as atividades profissionais tornaram-se cada vez mais centradas e dependentes da língua escrita, revelando a insuficiência de apenas alfabetizar – no sentido tradicional (que se preocupa somente em ensinar a decifrar códigos, a ler e escrever) – a criança ou o adulto.
Desse modo, o letramento não é unicamente pessoal, mas uma prática social, pois “é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em um contexto específico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais”. (SOARES, 2004, p. 72). A autora ressalta que existem “diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural” (id., ibd., p. 48-49).
Tomando como assertivas tais colocações vários teóricos, a exemplo de Rildo Cosson (2006), Kleiman (1995), Street (2014), Paulino (1998) e Fernandes (2011) coadunam com a importância de que o letramento entendido dentro do arcabouço das práticas sociais, ultrapassa o domínio da escrita, fazendo parte da formação social dos indivíduos.
Para muitos estudiosos, quanto mais o indivíduo avança na escolaridade formal, menos livros de Literatura ele lê. Essa afirmação encontra respaldo, dentre outros indicadores, nas práticas usuais do ensino de Literatura. É fato que, tradicionalmente, o texto literário utilizado continuamente na escola é, na maioria das vezes, fragmentos cumprindo uma “função” para o uso linguístico e gramatical, ora visto como conteúdo ético, estético e moral. Ou seja, a “apreensão” do texto literário limita-se à execução de exercícios escritos para que seja possível ao aluno provar que sabe ler e escrever.
Por isso, acreditamos que o ensino da Literatura deve estar ancorado em conceitos e práticas do letramento literário. No livro Letramento literário: teoria e prática, Rildo Cosson afirma que o mesmo é mais do que conhecer autores e seus períodos históricos, ou mais do que apenas a experiência da interpretação textual em si. Ler por ler não basta! É preciso que se constitua num processo que favoreça a construção da identidade e o respeito à alteridade. Ofertar aos estudantes mecanismos de interpretação e exploração de leituras que realizam é o que a escola precisa ensinar nesse campo. (2012)
É engano associar à leitura literária o prazer por si só. Obviamente, não se trata de abandoná-lo. Mas, é fundamental que ao romper com o círculo da reprodução secular do ensino da Literatura esteja consonante às exigências vinculadas a toda forma de saber, pactuadas com o compromisso imanente a todo conhecimento.
O ensino/aprendizagem calcado no letramento literário, como adverte Magda Soares, para se tornar uma prática significativa para quem lê, deve ser prioridade na educação escolarizada, mas, sobretudo resultar a devida apropriação da escrita e das práticas sociais que estão a ela associadas. Para isso, repensar o conceito de Literatura, seu valor e função social é critério na retomada em uma prática significativa para mediadores e aprendizes leitores. Sobre isso, Silva e Silveira (2011) sugerem que é premente ir ao encontro da necessidade de melhorar o ensino de Literatura, deslocando-a para um tipo de letramento em que é entendida de maneira mais ampla, mas profunda.
Recorremos, mais uma vez, a Rildo Cosson:
[...] o processo de letramento que se faz via textos literários compreende não apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também e sobretudo, uma forma de assegurar um efetivo domínio. Daí a sua importância na escola, ou melhor, sua importância em qualquer processo de letramento, seja aquele que se encontra na escola, seja aquele que se encontra difuso na sociedade. (2012. p. 12)
Desse modo é preciso definir o letramento literário como uma apropriação pessoal de práticas de leitura/escrita, que não se reduzem à escola, embora passem, também, por ela. Michèle Petit, ressalta que a leitura de textos literários “representa o espaço de abertura para o campo do imaginário, o lugar de expansão do repertório, das identificações possíveis” sem se dissociar do social. Ela [a leitura] encontra – ou deixa de encontrar – o seu lugar em um conjunto de atividades dotadas de sentido.” (2009, p. 74, 104). Ou seja, através da leitura literária é possível encontrar o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A função da Literatura nesse processo é nos indicar o que somos, incentivando-nos a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. Daí o entendimento de que a leitura não pode ser mera fruição.
O letramento literário, portanto, é mais que um conhecimento a ser reelaborado. Através da leitura literária ocorre a incorporação do outro no indivíduo (aquele que escreve e o que lê); no eu sem renúncia da própria identidade (Idem, 2012, p. 17). Contudo, apesar da leitura via de regra ser um ato solitário, a interpretação e exploração se constituem em um ato solidário. (p.27) Tanto Cosson, quanto Petit , salientam a necessidade de construção de comunidades leitoras, numa ampla rede de trocas solidárias. Por fim, como nos fala o singular Antônio Cândido sobre a importância da leitura da Literatura, quando enfatiza sua capacidade de estimular, criar curiosidade, problematizar... ratifica que “a leitura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, pois pelo fato de dar forma aos sentimentos e a visão do mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e nos humaniza”. (1995, p. 62).
Desse modo, ainda nos adverte Petit que, o sentimento de pertencimento e de isolamento que a Literatura é capaz de causar, em especial em jovens, a partir do momento em que começaram a ler ou a frequentar uma biblioteca, conseguiram enxergar novos horizontes para suas vidas e sobre como professores e bibliotecários podem contribuir nessa jornada. Ao frequentarem bibliotecas (e, porque não dizer, espaços como a FLIFS) passam a conceber a leitura como uma possibilidade de escolherem o próprio destino, sendo capazes de realizarem suas escolhas individuais, diferentes das dos demais em sua comunidade. Nessa perspectiva, Petit constata, ainda, que a leitura difere das outras práticas de lazer, pois propicia ao jovem uma identidade mais aberta, em evolução, não excludente. Além disso, o livro, para os sujeitos pesquisados, é mais importante do que a televisão ou outra mídia qualquer porque os permite sonhar, ver outras possibilidades realidades, experimentar outras experiências e emoções.
A pesquisadora lembra, ainda, que os leitores, nesses meios, são vistos como trânsfugas (aquele que ao “mudar” renega a sua origem), principalmente porque “podiam, dessa forma, sair de um modelo de vínculo social em que o grupo exercia um domínio sobre cada um. Era uma oportunidade de se dizer que poderiam ter uma opinião, em vez de ter sempre que se submeter aos outros”. (PETIT, 2008, p. 109-110). Embora suas histórias pessoais e como leitores sejam diversificados, a autora constata que a influência seja em um professor, bibliotecário, amigo, parente ou contador de histórias é praticamente unânime.
Assim, destaca-se que a relevância e a importância da leitura para o público da FLIFS (sobretudo, crianças e jovens oriundos da rede pública de ensino, além de envolver questões relativas às questões sociais e familiares), encontraram outra perspectiva de vida a partir do momento em que começam a ler. De fato, sabemos da necessidade das bibliotecas e da leitura para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos sujeitos é, sem dúvida, esclarecedora, suscitando inúmeras reflexões, seja para professores, pesquisadores ou bibliotecários, mas é salutar que espaços e atividades como as oferecidas pela FLIFS promovem estratégias de incentivo e acesso à leitura e ao livro..
Concluímos com a defesa ao “direito à Literatura.” Logo, a leitura literária se constitui como exercício de reflexão e de conhecimento, prática social e discursiva, capaz de modificar a visão de mundo do leitor num apelo pela liberdade individual, ajudando-o a evitar o que é preestabelecido na reprodução da ordem social, muitas vezes, causa de exclusão e marginalização. Promover o acesso à leitura literária é o que objetiva a FLIFS, através da socialização e visibilidade de práticas e pesquisas que disseminam a leitura como direito cultural. A Comissão Organizadora da FLIFS, no afã de “construir comunidades leitoras”, compreende que ao colocar em pauta o letramento literário, numa perspectiva em/de rede, possibilita, através da socialização de práticas e experiências de mediação, que mais pessoas acessem a leitura e por meio dela, seu público alvo possa estar mais preparado pra resistir aos processos de marginalização, possibilitando-o, através dessa democratização, se construir e sonhar.
A FLIFS é um evento gratuito, realizado em praça pública, de grande convocação à comunidade feirense e da Região Metropolitana, representada por professores, funcionários e estudantes do ensino fundamental, médio e superior das instituições públicas e privadas; profissionais que desenvolvem pesquisa sobre o tema; gestores públicos; integrantes de associações comunitárias, movimentos sociais; representantes de organizações não governamentais; empresários, empreendedores e comunidade em geral. 4.1 ORGANIZAÇÃO DO EVENTO A opção de realizar a Feira do Livro/Festival Literário e Cultural de Feira de Santana, como uma prática extensionista interinstitucional que visa a democratização do acesso às práticas culturais de leitura, fortalece a proposta de mobilização da comunidade para a importância da leitura como elemento facilitador da compreensão do mundo e da participação de cada ser na construção coletiva da cidadania, um trabalho comprometido com a formação do leitor proficiente e com a disseminação de manifestações culturais. Como nos inspira Marisa Lajolo (2018),”quem acha que literatura é privilégio de uma ou duas dezenas de escritores se engana”. (p. 15), a FLIFS é uma política pública que apresenta a literatura com suas múltiplas faces e, por isso, torna possível a fala de vários mundos. O evento tornou-se realidade devido a união de esforços das seguintes instituições: Universidade Estadual de Feira de Santana, responsável pela coordenação geral, Arquidiocese de Feira de Santana, Secretaria da Educação do Estado da Bahia – Núcleo Regional de Educação (NTE 19), Fundação Pedro Calmon, Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana, Serviço Social do Comércio de Feira de Santana–SESC e, mais recentemente, a integração do IFBA- Campus Feira de Santana. São organizadas sub comissões: programação, infraestrutura, comunicação e mobilização, com representação de todas as entidades, com a participação de estudantes e comunidade externa, em especial agentes culturais do Território Portal do Sertão. O desejo idealizado em 2008 pelos parceiros de difundir a leitura, nas suas variadas linguagens, de forma que todos tivessem acesso, completa agora dezesseis anos. Merece nota que, o NTE - 19 e a Secretaria Municipal de Educação de Feria de Santana, mantém a associação com as unidades escolares, através dos gestores e representantes discentes, a exemplo dos líderes de classes, a fim de se constituírem como interlocutores(as) da turma junto à Comissão de trabalho do evento, com o propósito de articular e propositar ações e atividades na organização e programação da FLIFS. O espaço escolhido para realização foi a praça pública, sem o uso de catracas, vislumbrando a gratuidade de todas as atividades oferecidas, favorecendo a aproximação de pessoas de diferentes classes sociais, gêneros e identidades culturais. No espaço atual, a Praça Padre Ovídio, centro de Feira de Santana é montada uma infraestrutura de grande porte, adequada à realização do evento, em que torna possível desenvolver uma vasta e diversificada programação de incentivo a leitura, de formação de plateia e admiradores das várias linguagens artísticas, dotada de conforto e segurança aos trabalhadores do evento e, principalmente, aos seus usuários. Com o intuito de melhor demonstrar a oferta das atividades apresentamos os dados quantitativos das quatro últimas edições, incluído as duas edições virtuais devido a pandemia da COVID - 19. VER DADOS DA TABELA 2 Dentre as atividades desenvolvidas destacam-se: venda e exposição de livros, realizadas por editoras, com destaque para as baianas, distribuidoras, Academias de Letras locais, escritores autônomos; exposição dos projetos estruturantes e ações educativas envolvendo as diversas linguagens realizadas por estudantes das redes de ensino e pelas instituições parceiras durante a programação e ou nos stands (63) distribuídos no espaço do evento; apresentações culturais das mais variadas linguagens como: apresentação de filarmônicas, recital de poesias, apresentação de grupos de dança, teatro, lançamentos de livros, encontro de escritores, contação de histórias por profissionais locais e profissionais reconhecidos nacionalmente, como, por exemplo, os escritores Augusto Pessoa, André Neves, Luiz Pimentel, Alexandre Azevedo, Luiz Ruffato, Milton Ratum, Marcelino Freire, Ricardo Ishmael, Rosena Murray, Sergio Vaz, Itamar Vieira Junior, Bule-Bule, Chico Pedrosa, Flanklin Maxado, Roberval Pereyr, Isabel Nascimento, Rita Queiroz, Aleílton Fonseca, Elisa Lucinda, Geni Guimarães, Maria Valéria Rezende, Conceição Evaristo, Margareth Menezes. As apresentações artísticas-culturais são realizadas em espaços da estrutura montada, a saber: palco, arena e Praça do Cordel, além da utilização das dependências do SESC Centro, Biblioteca Setorial Monteiro Lobato e Centro Universitário de Cultura e Artes – CUCA. É importante salientar que a programação contempla atividades abrangendo as diferentes linguagens, culturas, gerações etc. O evento além de alcançar seu objetivo, constituiu-se também em um ponto de encontro de estilos literários, autores, leitores e um prazeroso espaço de convivência com a cultura, a arte e o entretenimento. Desenvolvendo uma programação vasta e diversificada, a Feira do Livro - Festival Literário e Cultural de Feira de Santana, atrai um público numeroso e heterogêneo, dividido entre aqueles que apenas concentram-se no espaço central, visitando os stands de venda de livros e outros que em espaços pré-determinados, participam de atividades específicas como oficinas, palestras, recitais, shows, lançamentos de livros, dentre outras. 4.2 CHAMADAS PÚBLICAS Um dos instrumentos utilizados para a construção do evento é a publicação sistemática de chamadas públicas direcionadas: a) LANÇAMENTO DE LIVROS viabilizando a participação de escritores/autores que buscam promover suas obras literárias submetendo suas propostas, abarcando os campos literários, científicos, Literatura de Cordel, dentre outros, somado ao critério do ineditismo das obras, com data de edição/publicação condizente ao período da edição corrente. O “lançamento de livros” é uma das ações mais importantes dessa política pública, pois com o objetivo de formar leitores, suas atividades coadunam para a socialização e promoção, através da sua programação, do fazer literário de escritores de todo o Brasil, pequenas editoras e/ou editores independentes na divulgação dos seus títulos; b) EXPOSITORES: buscando viabilizar a participação de editoras, livrarias e distribuidoras de livros, a Comissão Organizadora, mais uma vez, usou como recurso a publicação de Chamada Pública para inscrição dos expositores interessados. Entende-se que, a venda de livros, oportunizada com a denominada “feira de livros” é também uma estratégia de aproximação dos leitores com esses objetos culturais de desejos, além de colaborar na ampliação dos espaços de venda de livros, impressos e digitais; c) APRESENTAÇÕES ARTÍSTICOS CULTURAIS cujo objeto é a seleção de apresentações para composição da programação, vislumbrando categorias de multilinguagens, shows musicais, teatro, contação de histórias, dentre outros; d) EMPREENDIMENTO PARA COMERCIALIZAÇÃO DE LANCHES, com prioridade para empreendimentos coletivos da Economia Solidária (grupos formais ou informais, associações e cooperativas). e) MONITORIA DE EVENTOS destinada a estudantes, regularmente matriculados na UEFS, IFBA, na rede pública de ensino, cursando o Ensino Médio, visando atuarem nos trabalhos de divulgação, mobilização e atividades de apoio da FLIFS - Feira do Livro - Festival Literário e Cultural de Feira de Santana. 4.3 PROTAGONISMO ESTUDANTIL No quadro abaixo tem-se o demonstrativo da visitação, previamente agendada, de grupos escolares oriundos de unidades públicas e privadas de Feira de Santana e região. VER DADOS TABELA 3 Faz-se necessário destacar que, uma das principais instâncias responsáveis pelo endosso da importância do letramento literário e a escola (LAJOLO, 2018 ). A autora destaca que a escola “é a instituição que há mais tempo e com maior eficiência vem cumprindo o papel de avalista e de fiadora do que é literatura. (Id., ibd., p. 28). Desse modo, é salutar o envolvimento das redes de ensino, em especial as públicas, pois práticas culturais de leitura são via de regra, oferecidas em “cardápios” por estabelecimentos escolares, inclusive, através do ensino da Literatura, fixando padrões e características do que é considerado a boa literatura e, por isso, deve ou não ser consumido pelos estudantes. Assim, o envolvimento dos estudantes na FLIFS, através da profícua associação com os líderes de classes, através do NTE - 19 e da Secretaria Municipal de Educação, com caráter propositivo, seja visitando os standes e adquirindo os livros ao seu bel prazer, através do vale-livro, participando como plateia das diversas atividades oferecidas, ou integrando a programação com as apresentações das escolas, ou ainda, participando do fazer a FLIFS, compondo o grupo de monitoria e, por fim, como personagem principal de apresentações culturais, como por exemplo exposição/apresentação dos resultados dos Projetos Estruturantes da SEC-Bahia nas áreas de arte e cultura, a saber: AVE, Dance, Encante, Epa, Face, Fe, Feste, Prove e Tal, além de shows como a Batalha do F¨6 (batalha de rimas), são formas possíveis e indispensáveis para o empoderamento destes como leitores e construtores do próprio repertório de leituras. Em outras palavras, o protagonismo estudantil/juvenil é uma forma de reconhecer que a participação dos estudantes na FLIFS pode gerar mudanças decisivas na realidade que os circundam, seja no campo social, ambiental, cultural e política onde estão inseridos. Vale registrar que, a mediação entre a Comissão organizadora do evento e as categorias estudantis, seja do Ensino Fundamental e do Ensino Médio é realizada pela Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana e pelo NTE - 19. 4.4 VALE-LIVRO Ação estratégica de democratização de acesso ao livro, a distribuição do Vale-livro se dá mediante apoio financeiro do Governo do Estado, da Prefeitura Municipal de Feira de Santana e do IFBA. Tal política vem sendo realizada desde 2010, a iniciativa é resultado do diálogo com as instâncias governamentais, a fim de garantir e manter sua distribuição aos estudantes e professores das redes públicas de ensino da Educação Básica. O Vale-livro beneficia ainda estudantes do Programa Interinstitucional Universidade para Todos (UpT/UEFS) e do Alfa Garis, projeto de Extensão parceiro, via Termo de Convênio com a empresa Sustentare, responsável pela limpeza pública de Feira de Santana. A seleção dos estudantes para acessar o Vale-livro é realizada pela Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana, NTE - 19 e pelo IFBA. Estes são cadastrados em uma base de dados informatizada o que gera a emissão do vale com os dados do estudante, sendo entregue ao mesmo, mediante a apresentação do documento com foto. No espaço da feira de livros, encontrarão os empreendimentos cadastrados e identificados que habilitados ao recebimento do vale. Essa ação, permite autonomia do estudante que escolhe o(s) título(s) da sua preferência sem a intervenção de outrem.
Mobilizar a comunidade de Feira de Santana e sua Região Metropolitana para a importância da leitura como elemento facilitador da compreensão do mundo e da participação de cada ser na construção coletiva da cidadania, ao tempo que centraliza o estudante e o professor, notadamente, das redes públicas de ensino da Educação Básica, como público alvo do evento.
Incentivar a leitura, a formação de mediadores de leitura e fomentar e divulgar a produção de livros, em conformidade com o Plano Estadual do Livro e da Leitura e com a Política de Gestão da Extensão Universitária da UEFS; Disseminar a literatura como direito cultural universal, provocando as instâncias públicas, privadas e filantrópicas para a importância de se implementar políticas leitoras na comunidade; Promover a integração do homem na sociedade em que vive, aproximando-o mais do livro; Incentivar o desenvolvimento do gosto pela leitura, despertando a curiosidade leitora de cada ser, visando a ampliação de repertório; Defender a ampliação da oferta do vale-livro para docentes e discentes da Educação Básica que compõem as redes públicas de ensino; Discutir sobre a produção e circulação da literatura, tanto a produção de autores consagrados, como produções “anônimas” de autores de feiras-livres e autores marginais; Oportunizar o debate do público leitor com escritores, através de mesas literárias e conversas; Promover e socializar projetos escolares, através da participação de docentes e discentes nas diversas modalidades de atividades durante a programação da FLIFS; Dar visibilidade as ações oriundas dos projetos estruturantes e de leitura realizados nas redes de ensino; Oportunizar às diversas escolas um espaço propício para trocas de vivências leitoras e contato com as múltiplas linguagens; Possibilitar a interação do leitor com as diversas formas de linguagem. Democratizar o acesso de comunidades de baixa renda ao universo da leitura e atividades culturais; Valorizar os artistas da comunidade e regiões circunvizinhas com a divulgação dos seus trabalhos. KK
Fomentar a formação de leitores é, sem dúvida, uma necessidade urgente. Segundo Cosson e Souza (s/d) “De todas as competências culturais, ler é, talvez, a mais valorizada entre nós. Em nossa sociedade, a presença da leitura é sempre vista de maneira positiva e sua ausência de maneira negativa”. Assim, a Universidade Estadual de Feira de Santana e os demais parceiros organizadores da Feira do Livro/Festival Literário e Cultural de Feira de Santana, se juntaram mais uma vez a fim de construírem a 16a edição do Festival, por entenderem o papel social, formativo, político e de formação de plateia e de leitores multifacetados que a FLIFS se configura. Reconhecendo que diferentemente de outros países que têm uma forte política de apoio ao livro e à leitura, por ser considerada uma política estratégica para seu desenvolvimento nacional, o Brasil, ainda hoje, carece de políticas públicas mais incisivas e de maior alcance destinadas ao incentivo à leitura e ao livro, se configurando no cenário nacional frágeis e circunstanciais. A realidade brasileira ainda amarga um dos piores índices de aquisição de livros (número de livros lidos por ano), ínfimo número de bibliotecas por habitantes, entre outros. Estudos realizados por Abreu (2006) revelam que “cidades com menos de 20 mil habitantes não possuem bibliotecas”. Já Gentili e Alencar (2001, p.50) afirmam que o número de bibliotecas particulares no Brasil, “não chega a 900 mil o número de brasileiros que têm biblioteca com mais de 500 livros em casa”. A 5a edição da pesquisa nacional Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2019 e publicado os resultados em 2020, reforça a fragilidade das políticas públicas apresentando a posição que o Brasil no raking mundial sobre a média em leitura, ocupando a 60ª posição entre 70 países e está abaixo da média mundial em leitura somando 407, quando a média mundial é de 493. . Outro dado importante é a posição na região Nordeste com 48% de leitores de livros do público ouvido, ficando à frente apenas da região Centro-Oeste. (RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL, 2020). Estes dados reforçam ainda mais a necessidade e a importância de políticas públicas de leitura, criação de espaços atraentes, adequados e mobilizadores de práticas culturais de leitura que não apenas fomentem, mas aproximem os cidadãos do objeto impresso e das várias formas e linguagens. A realização de feiras, colóquios e seminários que têm o livro e a leitura como temáticas, devem fazer-se presentes, permanentemente, nas agendas municipais, estaduais e federais, não como eventos pontuais, mas, como políticas públicas que efetivamente objetivem a formação de leitores mais críticos, proficientes e autônomos. Nesse sentido, a FLIFS - Feira do Livro/Festival Literário e Cultural de Feira de Santana se consolidou como uma ação sociocultural participativa, que visa potencializar a formação do leitor de todas as idades, alargando fronteiras e fomentando o encontro para além das palavras. Este evento se ancora na compreensão de que o conhecimento construído pelo povo em seu universo cultural se traduz em diferentes leituras de mundo. Logo, o aprendizado da leitura se dá via processo ininterrupto de interação, no qual o individual e o coletivo se complementam no cenário social marcado por diversidades econômicas, sociais e culturais, ultrapassando o tempo e o espaço e abrangendo as diferentes linguagens. A leitura, nessa perspectiva, é concebida como um ato de dimensão ampla, vinculado à expressão e recepção de movimentos, imagens, sons, relações, ligando pessoas na dinâmica da vida, numa tentativa constante de tradução do mundo em que vivem. Nesse sentido, “o ato de ler não se circunscreve a iniciados ou eruditos. Não está afeito apenas a estudiosos ou pesquisadores, professores de Letras, Pedagogia, História ou outras disciplinas das ciências humanas. É dever (e direito) de todos [...] seja qual for a formação, etnia, padrão de vida social ou econômico.” (ARAÚJO, 2006, p. 21). Desse modo, entendemos que a democratização do conhecimento é um desafio que deve transcender a fronteira da escola. É preciso criar uma cultura de leitura que envolva os diferentes atores da sociedade. É fundamental discutir a importância de desenvolver um projeto global de leitura, no qual estejam envolvidas as instituições de educação das esferas pública e privada, bem como, diversos órgãos da sociedade ligados direta ou indiretamente à temática com o objetivo de incentivar e valorizar o ato de ler.
Histórico de movimentação
11-05-2023 15:27:39
Criação da proposta
21-09-2023 14:52:55
Parecer da Câmara de Extensão
APROVADO - FALTA ANEXAR A RESOLUÇÃO QUE AINDA NÃO ESTÁ DISPONÍVEL
01-09-2023 15:55:29
Em Análise
Proposta enviada para análise da Câmara de Extensão
21-09-2023 14:52:55
Aprovado
APROVADO - FALTA ANEXAR A RESOLUÇÃO QUE AINDA NÃO ESTÁ DISPONÍVEL
21-09-2023 14:53:14
Ativo
Habilitado