Em muitos países, incluindo o Brasil, o câncer de boca é considerado um problema de saúde pública, devido a sua elevada prevalência, mortalidade e impactos socioeconômicos (GOIS SANTOS, 2013; MARTINS et al., 2014). Dentre todos os tipos de cânceres, é o 5º mais frequente em homens, após a 5ª década de vida (SCHEUFEN, 2011). O número estimado de casos novos de câncer da cavidade oral para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 15.100 casos, correspondendo ao risco estimado de 6,99 por 100 mil habitantes, sendo 10.900 em homens e 4.200 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 10,30 casos novos a cada 100 mil homens e 3,83 a cada 100 mil mulheres (INCA, 2023). Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer da cavidade oral ocupa a oitava posição entre os tipos de câncer mais frequentes. Em homens, é o quarto mais frequente na Região Sudeste (13,16 por 100 mil) e o quinto nas Regiões Nordeste (8,35 por 100 mil), Centro-oeste (8,14 por 100 mil) e Norte (4,53 por 100 mil). Na Região Sul (10,52 por 100 mil), ocupa a sexta posição. Entre as mulheres, é o 13o nas Regiões Sudeste (4,37 por 100 mil), Nordeste (3,87 por 100 mil) e Norte (1,96 por 100 mil). Já na Região Centro-oeste (3,21 por 100 mil), ocupa a 15a posição. Na Região Sul (3,60 por 100 mil), está na 16a posição (INCA, 2023). Estes dados são preocupantes, uma vez que aproximadamente 60% dos pacientes que desenvolvem tumores na boca morrem em consequência da doença (VIDAL, 2012). As causas do câncer são variadas, podem ser externas ou internas. As internas são geneticamente determinadas, sendo responsáveis por cerca de 5% dos casos de câncer bucal e estão relacionadas à capacidade de resposta do organismo às ativações ou inativações equivocadas dos genes envolvidos no processo de carcinogênese (MACIEL, 2012). Enquanto que os fatores externos se referem a fatores comportamentais, como o hábito de fumar e ingerir bebidas alcoólicas e/ou fatores ambientais, como a exposição à radiação solar sem proteção (ANDRADE et al., 2015; CARVALHO, 2012). De acordo com o Inquérito Domiciliar Sobre Comportamento de Risco e Morbidade Referida de Agravos e Doenças não Transmissíveis (2004), o consumo de álcool aumentou ao longo dos anos, principalmente entre os homens e nos países em desenvolvimento. Em relação ao uso de tabaco o Instituto Nacional do Câncer (INCA) afirma que 48% da população masculina têm o hábito de fumar. Quando se trata da exposição solar sem proteção, ela está diretamente vinculada às atividades laborais, local de residência e ausência do uso de protetor solar (INCA, 2013). Logo, os indivíduos do sexo masculino parecem estar mais susceptíveis ao desenvolvimento do câncer bucal, devido a sua exposição à maioria desses fatores de risco (WHO, 2014). A identificação precoce da doença determina um prognóstico mais favorável, quando comparado aos tumores diagnosticados em estágios mais avançados (BATISTA, 2008). Entretanto, 70 a 80% dos casos de câncer bucal ainda são diagnosticados tardiamente (ALVARENGA, 2012). Poucos casos são diagnosticados “in situ”, estágio ideal para a cura da lesão (VIDAL, 2012), situação que incide no aumento dos indicadores de mortalidade, diminuição da qualidade de vida dos acometidos e aposentadorias precoces (SCHEUFEN, 2011). O rastreamento de desordens potencialmente que podem progredir para o câncer oral pode se constituir em uma importante ferramenta de identificação de indivíduos pertencentes a grupos de risco permitindo a prevenção ou o diagnóstico precoce do câncer oral (CATHERINE, 2006). Assim, as atividades de educação em saúde e ações desenvolvidas através do Programa Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão, vinculado ao Núcleo de Câncer Oral/Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), intitulado Programa de Prevenção e Controle do Câncer de Boca no Município de Feira de Santana, poderão fortalecer esse processo através da orientação direcionada ao público.

-Atividade de treinamento Inicialmente, haverá a o treinamento dos bolsistas vinculados a cada plano quanto à metodologia e às atividades a serem desenvolvidas, através da sua inserção no NUCAO, participação nas sessões científicas e orientação junto à coordenação do projeto. -Levantamento do referencial teórico Durante toda a vigência do projeto, de acordo com plano de trabalho, os bolsistas realizarão levantamento do referencial teórico nas bases PUBMED e SCIELO para embasar a produção de materiais informativos, educativos para a comunidade e a elaboração de atividades de capacitação dos profissionais de saúde sobre as medidas de proteção, fatores de risco, identificação de lesão e demais atitudes para prevenir e controlar esses agravos. - Elaboração de material educativo, formativo e de avaliação Para o desenvolvimento das atividades educativas presenciais ou virtuais junto aos profissionais de saúde, serão utilizados o PowerPoint, Canva, Vocaroo, Crello, Powtoon, Piktochart e o Padlet para criação de materias, vídeos, podcasts e apresentações. O material educativo produzido será utilizado junto às oficinas na comunidade e nas capacitações dos profissionais de saúde, de acordo com o plano de trabalho 1, 2 ou 3, como também, será disponibilizado através de canais oficiais do Núcleo de Câncer Oral (NUCAO) no Youtube, Instagram, Spotify, Deezer, grupos de WhatsApp e da Pro-Reitoria de Extensão (PROEX) da UEFS. -Atividades de educação em saúde Atividades de educação em saúde bucal voltadas para adultos e idosos em asilos, feiras de saúde, centros comunitários, igrejas, canteiros de obras etc., especialmente com grupos de risco, visando a prevenção do câncer bucal. -Capacitações Cursos de extensão, oficinas e cursos de capacitação para profissionais e estudantes da área de saúde sobre o câncer bucal em Unidades de Saúde de Família e Cursos de graduação em odontologia. Necessidade de contato com os locais onde serão realizadas as ações para buscar as informações necessárias para fins de agendamento e planejamento das atividades de acordo com a realidade local, contemplando os saberes prévios da comunidade e envolvendo cada participante de modo a entenderem-se como sujeitos ativos das ações. -Rastreamento e notificação de lesões bucais Após a realização das atividades educativas, o público será convidado participar das atividades de rastreamento, em que a equipe de trabalho (Estudante de odontologia/bolsista de extensão e Orientador) devidamente paramentada com Equipamento de Proteção Individual e ciente das medidas de biossegurança, realizará o exame da cavidade oral do indivíduo, que estará disposto em uma cadeira em local iluminado. O exame da boca terá o auxílio de gaze e paleta de madeira. As lesões suspeitas serão notificadas em ficha apropriada e encaminhadas para atendimento na clínica odontológica da UEFS, através do Centro de Referência de Lesões Bucais que funciona junto a disciplina Estudos Integrados XIV. As atividades contemplarão, ainda o estímulo a notificação dos casos suspeitos de câncer bucal nas unidades de saúde da família e, consequente, encaminhamento para diagnóstico e tratamento em centros de referências de lesões bucais como o CRLB/UEFS e/ou Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACOM). O rastreamento será realizado pelos bolsistas dos Planos de trabalho 1 e 2, sob a supervisão do orientador. -Atendimento dos casos indivíduos com lesões bucais Os indivíduos rastreados e encaminhados ao CRLB, além daqueles de demanda espontânea serão examinados clinicamente e, os casos indicados serão biopsiados no próprio serviço pelos estudantes do componente curricular Estudos Integrados XIV ou bolsistas dos Planos de trabalho 1, 2 e 3, sob a supervisão dos professores orientadores. A partir das lesões confirmadas, será criado um banco de dados no Excel para fins tabulação das informações que serão usadas junto às unidades de saúde ou centros comunitários para planejamento de ações de enfrentamento dos problemas encontrados. -Realização de exame histopatológico Os espécimes advindos das biópsias realizadas no CRLB/UEFS ou serviços conveniados serão analisados no Laboratório de Patologia Bucal da UEFS. O laboratório conta com três patologistas bucais e dois técnicos em patologia. Os bolsistas e estudantes envolvidos com o caso poderão acompanhar a investigação diagnóstica. -Encaminhamento das lesões malignas Os pacientes com diagnóstico confirmado de câncer bucal no CRLB/UEFS serão referenciados para tratamento em serviço de saúde de alta complexidade, como UNACON, HAM ou OSID. -Preparo prévio odontológico do indivíduo oncológico Os bolsistas sob a supervisão do orientador e estudantes de odontologia do componente curricular Estágio em Clínica Odontológica Integrada V/UEFS farão o exame clínico bucal dos pacientes portadores de lesões bucais, em seguida, realizarão o plano de tratamento de acordo com o nível de complexidade das necessidades odontológicas encontradas, na perspectiva da clínica ampliada. Para isso deverão: Realizar exame extraoral e intraoral; Verificar cadeia ganglionar, aferir pressão arterial a cada consulta; Realizar o exame radiográfico de acordo com a necessidade; Verificar se existem situações/condições sistêmicas com alteração que requeira investigação junto ao serviço de saúde que acompanha o paciente; Finalmente, realizar os procedimentos odontológicos de periodontia, endodontia, reabilitação, cirurgia e dentística, pertinentes. -Acompanhamento e proservação dos indivíduos em tratamento antineoplásico Os indivíduos em tratamento cirúrgico, quimioterápico radioterápico ou imunoterápico ou após conclusão do tratamento antineoplásico serão acompanhados pelos bolsistas, sob a supervisão do orientador, e estudantes de odontologia do componente curricular Estágio em Clínica Odontológica Integrada V/UEFS de modo a evitar complicações advindas do tratamento antineoplásico. -Educação permanente de recursos humanos da rede pública de saúde A capacitação sobre o câncer bucal será ministrada em formato de oficinas que incialmente abordarão: o Processo saúde-doença e estilo de vida; Conceito, epidemiologia e fatores de risco do câncer bucal; Lesões e desordens potencialmente malignas; Autoexame bucal, fatores de proteção e cuidados com a prótese bucal; Diagnóstico, tratamento e proservação do câncer bucal. Entretanto, de acordo com o primeiro contato com os profissionais, esses temas poderão ser modificados para atender à realidade identificada. Cada oficina será dividida em cinco momentos: Dinâmica de acolhimento; Abordagem temática; Compartilhamento de saberes; Dinâmica de fixação do conteúdo; e atividade de Encerramento. As oficinas serão elaboras e realizadas pelo bolsista sob a supervisão do orientador. A metodologia apresentada nesse projeto favorecerá à organização da assistência prestada ao paciente com câncer bucal no município de Feira de Santana e adjacências, contribuindo para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) na região e para a melhoria do ensino da graduação através da ampliação dos cenários de prática dos estudantes e bolsista com a realidade local.

Desenvolver atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão visando a prevenção e controle do câncer bucal na microrregião de Feira de Santana.

-Esclarecer a população acerca dos problemas relativos ao câncer bucal e lesões potencialmente malignas -Contribuir para a redução dos elevados índices de morbimortalidade da doença em nossa região -Propiciar a produção de conhecimentos orientados pelo Ensino integrado à Pesquisa e Extensão -Incrementar o sistema de busca ativa dos casos particularmente em locais de pouca assistência, como na zona rural -Realizar exames em massa na população, priorizando os grupos de risco -Desenvolver atividades educativas relativas ao assunto em empresas, escolas e asilos com os grupos de risco, com vistas à promoção de saúde; -Veicular informações quanto à prevenção e controle do câncer bucal através dos meios de comunicação de massa -Capacitar profissionais de nível médio (agentes comunitários de saúde), em atividades de educação para a saúde e identificação dos sinais de alarme em relação ao câncer bucal para encaminhamento para o Centro de Referência -Capacitar profissionais da área médica e odontológica, para diagnóstico precoce do câncer bucal -Implantar um sistema de informação em saúde em relação ao câncer bucal no Centro de Referência em consonância com o Ministério da Saúde e demais centros Motivar a notificação dos casos suspeitos de câncer bucal nas Unidades Básicas de Saúde -Incorporar o programa ao sistema de controle e avaliação da divisão de doenças crônico-degenerativas do Estado -Incrementar o sistema de referência e contra referência de casos -Integrar as instituições envolvidas no programa a fim de reduzir o intervalo decorrido entre a detecção, o diagnóstico e o tratamento do paciente com câncer de boca -Ampliar a oferta de serviços na área odontológica -Reduzir a demanda espontânea nos centros de atendimento de maior complexidade (hospitais especializados), facilitando a resolutividade dos serviços -Favorecer a integração docente -assistencial -Facilitar a reabilitação do paciente contribuindo para sua reintegração na sociedade

O Programa de Prevenção e Controle do Câncer de Boca, através do desenvolvimento de atividades de educação em saúde e rastreamento de lesões bucais em Feira de Santana ao longo da sua implantação tem favorecido a prevenção e detecção precoce da doença. Considerando o perfil do indivíduo com esta doença, em sua maior frequência, é homem com idade superior a 40 anos, tabagista e etilista, as atividades educativas e de rastreamento do câncer bucal voltadas aos indivíduos, pertencentes aos grupos de risco para o desenvolvimento da doença, e/ou população geral, para que auxilie na rede de divulgação sobre os fatores de risco e proteção associados à doença, poderão auxiliar na vigilância dos mesmos em relação à prevenção e detecção precoce da doença, contribuindo para a redução dos indicadores de morbimortalidade do câncer bucal. Além disso, as ações desenvolvidas através do Programa Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão, vinculado ao Núcleo de Câncer Oral/Universidade Estadual de Feira de Santana contribuirão para a formação de recursos humanos preparados para atuar em equipes interdisciplinares e conscientes do seu real papel na reversão do atual perfil da doença.