FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL PARA PROFISSIONAIS DOS CAPS EM FEIRA DE SANTANA #97

Coordenador:
Clara Aleida Prada Sanabria
Data Cadastro:
01-06-2023 10:26:57
Vice Coordenador:
-
Modalidade:
Híbrido
Cadastrante:
Clara Aleida Prada Sanabria
Tipo de Atividade:
Curso
Pró-Reitoria:
PROEX
Período de Realização:
22/08/2023 - 24/11/2023
Interinstitucional:
Não
Unidade(s):
Coordenação de Extensão em Saúde,

Resolução Consepe 115/2023
Processo SEI Bahia 07163402023001887581
Situação Ativo
Equipe 3

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços de saúde mental, criados pela Política Nacional de Saúde Mental para substituir os hospitais psiquiátricos. Os CAPS têm como premissa trabalhar a partir da lógica comunitária, desconstruindo estigmas e favorecendo o desenvolvendo da autonomia e protagonismo dos usuários. O acolhimento, enquanto estratégia de cuidado é uma das práticas mais relevantes utilizadas nos CAPS, começa através da escuta qualificada, quando os usuários chegam no serviço com suas demandas. O CAPS deve funcionar como um espaço não somente de escuta do sofrimento, mas como lugar de produção de subjetividades e construção de vínculo, respeitando e entendendo os diferentes modos de vida das pessoas. O presente curso tem como objetivo compartilhar conhecimentos com os profissionais dos CAPS sobre os aspectos centrais da Reforma Psiquiátrica Brasileira e as mudanças no modelo de atenção às pessoas com sofrimento psíquico e doenças mentais.
A construção do conceito da Reforma Psiquiátrica parte do conceito de desinstitucionalização. Na tradução norte americana, a desinstitucionalização era sinônimo de desospitalização e reorganização assistencial e administrativa da psiquiatria, para as experiências da Reforma Democrática Italiana de Franco Basaglia, a desinstitucionalização é analisada de modo complexo que envolve processos sociais. Esta análise crítica tende a mobilizar os sujeitos envolvidos no processo de cuidado como eles podem mudar as relações de poder estabelecidas entre usuários, profissionais e instituições, essas transformações podem produzir estruturas no campo da saúde mental que substituem inteiramente os manicômios (AMARANTE, 2015). A Reforma Psiquiátrica Brasileira além da complexidade, abrange quatro dimensões principais: teórico-conceitual, técnico assistencial, jurídico- política e sociocultural. A dimensão teórico-conceitual consiste na construção de um novo modelo no campo das ciências sociais, sobre o sujeito em sofrimento psíquico, essa dimensão significa romper com o modelo hospitalocêntrico, biomédico, com o propósito de apontar possibilidades que compreenda a saúde como um processo, resultado dos diferentes modos de vida das pessoas e do lugar que elas pertencem (AMARANTE, 2013). Esta dimensão aborda conceitos como: “doença mental”, “alienação”, “enclausuramento terapêutico e social”, “normal”, “anormal”, “degeneração” e “cura”. Assim, os conceitos de desinstitucionalização e doença mental são fundamentais para compreender essa dimensão, a desinstitucionalização parte das ideias basaglianas que defendem o novo modelo de cuidado, especificidades de como acolher, atender, cuidar as pessoas em sofrimento psíquico, já o conceito de doença mental nessa dimensão é colocado para debate, e como são tratadas as ações profissionais, as relações entre os atores envolvidos (AMARANTE, 2013; VASCONCELOS, 2010; BRASIL, 2004). A dimensão técnico-assistencial, está relacionada à dimensão conceitual, uma vez que nessa dimensão se concentram novos substitutivos de saúde mental. Historicamente, os manicômios estavam pautados na segregação, tutela, disciplina e vigilância das pessoas internadas. O enclausuramento nos hospitais psiquiátricos, que eram depósitos para pessoas que hipoteticamente não possuíam relação comum (AMARANTE, 2013). Neste sentido, a dimensão jurídico-política, é vista no campo das tensões combinadas pelas práticas da Reforma Psiquiátrica e que provocaram transformações nas relações entre o Estado e o campo da saúde mental. Essa dimensão pode ser entendida como uma soma de mudanças de caráter legislativo, penal e civil, referente à ideia de loucura no imaginário social, no qual associa o sujeito louco a periculosidade, sendo inapto socialmente e irresponsável. Logo, a dimensão jurídico-política dispõe grande impacto nas medidas e ações estratégicas no cenário da Reforma Psiquiátrica no Brasil (AMARANTE, 2013). E por fim, a dimensão sociocultural que corresponde a construção de um novo espaço social da loucura e para o sujeito louco, através do pensamento social sobre a loucura e sua relação com o contexto social. A dimensão sociocultural está relacionada às atividades e estratégias de natureza cultural, que tem como foco relatar o histórico do campo da saúde mental no país, bem como, desconstruir o estigma da loucura produzido durantes muitos séculos, além disso, defende as diferentes possibilidades de cuidado, para além dos hospitais psiquiátricos (AMARANTE, 2013). O conceito de acolhimento definido pela Política Nacional de Humanização (PNH) tem como objetivo garantir a construção de vínculos dos usuários e profissionais da saúde, considerando os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, tal conceito tem sido incorporado de forma diversa nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). As pesquisas sobre o tema apontam que a construção do vínculo com o usuário é a principal estratégia de cuidado nos serviços de saúde mental. De acordo com a PNH, o ato de acolher expressa diferentes definições: pode ser uma prática de se aproximar, “estar com”, “estar por perto” ou uma ação de inclusão. A prática de acolher implica se relacionar com alguém ou algo. Assim, a partir dessa perspectiva, o acolhimento é considerado uma das diretrizes de maior importância (ético-estético-política) da PNH (BRASIL, 2010). Dessa forma, a PNH assume a postura ética no que se refere ao compromisso com o reconhecimento do outro, na ação de acolhê-lo em suas singularidades, seus sofrimentos, suas alegrias, suas formas de viver, sentir e estar na vida. E, também a postura estética, porque diz respeito às suas relações e aos encontros do cotidiano, à invenção de diferentes possibilidades que auxiliam na construção da vida e do viver. E, finalmente, é política porque implica a corresponsabilidade de envolver-se neste “estar com”, potencializando protagonismos nos diferentes encontros (BRASIL, 2010). Diversas pesquisas têm se debruçado sobre o acolhimento nos CAPS, demonstrando os avanços e os desafios para o fortalecimento da PNH na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). No processo de acolhimento existem dois aspectos centrais: o vínculo e a responsabilização. Sobre o aspecto do vínculo, nota-se que as relações nesses espaços operam entre os usuários e profissionais ou entre os próprios profissionais; observa-se, também, quais são as possibilidades de intervenções nos serviços de saúde, de que forma o discurso é produzido, os turnos e os trabalhadores disponíveis para a realização do acolhimento, o tempo de espera e como os encaminhamentos são feitos dos casos que foram acolhidos; entende-se, assim, que esses elementos constituem a chance da construção do vínculo entre os atores (MOREIRA; TORRENTÉ; JUCÁ, 2018). Os aspectos relacionados à construção do vínculo consistem na estrutura espacial e na produção de discursos sobre a importância da implicação dos atores (familiares, usuários e profissionais) no processo de cuidado e maneiras de viabilizar intervenções no serviço. Além disso, também são importantes a organização institucional dos turnos e os profissionais dispostos para o acolhimento, o tempo de espera e a forma como funcionam os encaminhamentos dos sujeitos acolhidos. Essas ações concretizam oportunidades de vínculo dos usuários ao serviço e à equipe técnica (MOREIRA; TORRENTÉ; JUCÁ, 2018). Em relação à responsabilização, existe a necessidade de que, no primeiro momento de acolhimento, se interfira no cuidado em saúde para responsabilizar os usuários sobre o próprio cuidado, pois, no modelo psicossocial, pretende-se retirar o sujeito da posição de quem somente sofre psiquicamente por resultado de seus conflitos (MOREIRA; TORRENTÉ; JUCÁ, 2018). Dessa forma, as práticas de acolhimento são vistas como estratégias de intervenção que buscam estabelecer o vínculo entre o usuário, a família e os profissionais do serviço, que passam a entender o CAPS como um espaço adequado para oferta de cuidado em saúde mental. Assim, tanto o acolhimento quanto a construção do vínculo só apresentam efetividade com a implicação dos atores envolvidos (usuário, família e equipe técnica). O CAPS deve possibilitar a produção de discursos e a interação de experiências a partir da consideração dos aspectos psíquicos de cada pessoa (PINHO; SOUZA; ESPERIDIÃO, 2018). O acolhimento concretiza-se no quadrilátero que fortalece os encontros: construção do vínculo, escuta qualificada, implicação e resolutividade (CARVALHO et al., 2019). De acordo com Lopes et al. (2015), o acolhimento é uma prática que deve acontecer em todos os vínculos de cuidado, na relação entre os profissionais de saúde e os usuários, no exercício de saber escutar e recepcionar os sujeitos e determinar o acolhimento como uma ação que: permita humanizar o cuidado; expandir o acesso dos usuários aos serviços de saúde; dar resolutividade às demandas de saúde; auxiliar na coordenação dos serviços; e possibilitar a construção do vínculo entre trabalhadores e usuários. Acolher requer postura ética e comprometimento interprofissional em concordância com as demandas dos usuários, da coletividade e da comunidade em geral (CARVALHO et al., 2019). Para Dimenstein et al. (2018), o acolhimento é uma prática relacional, com o propósito de compreender as necessidades e predileções das pessoas, verificar a classificação por risco e minimizar o tempo de espera dos usuários. Em um estudo realizado em alguns CAPS da região sudeste, por Constantinidis et al. (2018), observaram que o acolhimento acontece através das atividades terapêuticas, podendo surgir manifestações novas, a loucura nesses espaços pode ser vista de outra maneira, diferentemente do estereótipo socialmente criado. Neste mesmo estudo, os autores apontaram que os participantes sentem que suas dores são acolhidas nas atividades terapêuticas e geram possibilidades de construções relacionais. Nesse contexto, ao analisar o entendimento que os profissionais têm acerca do acolhimento em um CAPS III, observou-se que a escuta qualificada é uma prática comum no serviço. O trabalho parte do reconhecimento sobre o quanto é importante identificar quais as necessidades dos usuários, bem como os diferentes discursos que fazem parte da rotina do trabalho. Assim, existe atenção em desenvolver práxis humanizadas e implicadas no processo do cuidado (BALLARIN et al., 2011). Acessibilidade e acolhimento são complementares no processo de cuidado, pois se trata da implicação dos profissionais que compõem o serviço, os quais irão viabilizar ou não o acesso dos usuários e seus familiares. As formas como o acolhimento acontece são fundamentais para o desenvolvimento do cuidado, ou seja, o acolhimento não fica restrito somente às estruturas físicas do acesso, mas também ao manejo dos profissionais no atendimento, na escuta e na avaliação das demandas. O acolher demanda tanto uma tarefa imediata quanto um tempo para assumir a conduta (SCHMIDT; FIGUEIREDO, 2009). No primeiro contato com o usuário, os profissionais que trabalham no serviço de saúde podem, através do acolhimento, oferecer a escuta qualificada, tanto aos usuários quanto aos familiares, de forma que faça eles se sentirem confiantes e tranquilos para verbalizar suas demandas, questionamentos e angústias. Essa estratégia de cuidado auxilia os profissionais a conhecerem as necessidades de saúde dos usuários no território (BRASIL, 2013). Em uma pesquisa realizada em um CAPS, observou-se que o acolhimento esteve presente nos processos de trabalho do serviço e que o vínculo foi permanente entre os profissionais, usuários e familiares que o frequentavam. Assim, o acolhimento é considerado uma estratégia de cuidado, pois, a partir do princípio do vínculo afetivo, ajuda no acompanhamento dos usuários. De acordo com o autor da pesquisa, essas falas aparecem em vários momentos das entrevistas (MORAES, 2018). Outro estudo, verificou que os profissionais de um dispositivo de saúde mental entendem que o acolhimento está relacionado à entrevista inicial com o usuário. No entanto, esses mesmos trabalhadores do serviço apresentavam nas suas falas outras perspectivas sobre acolhimento, que vão além da triagem inicial e que são introduzidas no processo de trabalho, como ambiente de escuta e ação em saúde (SCHEIBEL; FERREIRA, 2011). Para Xavier (2012), o acolhimento de usuários de um CAPS AD acontece da seguinte forma: em alguns atendimentos o profissional da enfermagem faz o encaminhamento ao técnico de referência, em outros casos o próprio profissional que realizou a acolhida torna-se o técnico de referência ou pode encaminhar para outro profissional da equipe. Durante a oferta do acolhimento é realizada uma avaliação com o usuário, com os dados da anamnese para a elaboração do projeto terapêutico singular. Londero (2010), em seu estudo sobre as práticas de acolhimento em um CAPS II, observou que os aspectos éticos do acolhimento no exercício prático estão relacionados aos atores envolvidos no processo (equipe, usuários e familiares). O acolher é mais que um conceito-ferramenta para atuação; envolve também a concepção de vida do sujeito que se apresenta naquele espaço, bem como a sua história de vida. Em estudo realizado em um CAPS III, os autores apontam o contentamento dos usuários no atendimento ofertado pelo serviço, deixando transparecer a satisfação em relação aos processos de acolhimento recebido pelos profissionais. No campo da saúde mental, a construção do vínculo e a escuta qualificada através das práticas de acolhimento caracterizam-se como estratégias importantes para intervenções, pois resultam na disponibilidade dos profissionais em escutar as demandas dos sujeitos, assumindo uma postura de acolhimento (CLEMENTINO et al., 2017). Ofertar acolhimento é uma eficiente estratégia de cuidado que possibilita dinamizar a atuação da equipe técnica no serviço de saúde mental a partir da assistência mais afetiva, estabelecendo construções de vínculos entres sujeitos e profissionais, considerando a escuta importante para materialização do vínculo, tornando o CAPS um espaço de transformação potente e corresponsável pela autonomia dos usuários (CAÇAPAVA, 2008). Neste contexto, no campo da saúde mental, o acolhimento, a escuta e a construção do vínculo formam um conjunto de práticas importantes para as intervenções, consideradas tecnologias leves de cuidado na comunidade, possibilitando uma relação terapêutica mais próxima, ou seja, o profissional da saúde mental está disponível a escutar as demandas dos usuários, isto é, assume uma postura acolhedora (MIELKE; OLSHOWSKY, 2011). Assim, o Projeto Terapêutico Singular como instrumento de acolhimento no CAPS, pode ser visto como uma das tecnologias de cuidado aos usuários CAPS e seus familiares O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é considerado uma ferramenta potente na produção do cuidado integral em saúde mental, seja na Atenção Básica ou nos CAPS. Na intersetorialidade entre os níveis de atenção à saúde, o matriciamento enquanto recurso de trabalho da Estratégia de Saúde da Família (ESF) auxilia na ligação coletiva entre as pessoas envolvidas na construção do PTS. Assim, através da Portaria n° 147/1994, o Ministério da Saúde instituiu o PTS como um conjunto de estratégias e ações determinados pelas equipes técnicas dos serviços de saúde, com o objetivo de promover cuidados aos usuários e familiares, desde a sua entrada no serviço até sua autonomia fora do serviço. (DINIZ, 2017). De acordo com a PHN, o PTS se configura a partir das práticas terapêuticas articuladas de forma individual e/ou coletiva, a partir das discussões da equipe interdisciplinar com o apoio matricial caso seja necessário, e incluindo as prioridades de cuidado do usuário. O PTS é usado em serviços de saúde mental como forma de possibilitar o protagonismo dos usuários e familiares de maneira integrada, considerando diferentes aspectos além do diagnóstico psiquiátrico e do tratamento psicofarmacológico (BRASIL, 2007). Os atendimentos nos CAPS vão além do atendimento clínico, buscam ofertar cuidados que favoreçam a inserção social, reabilitação psicossocial e a autonomia. Nos CAPS, são realizadas atividades como: oficinas terapêuticas, atividades artísticas, atendimento psicológico, orientações, visitas domiciliares e etc. Além desse conjunto de ações de cuidado, o CAPS também utiliza o acolhimento como uma ferramenta e estratégia de cuidado em saúde mental, fazendo parte do cotidiano do serviço. (PEGORARO; NUNES, 2017). Em experiência de acolhimento em um CAPS II no interior de Minas Gerais, um estudo observou que, no início do atendimento, é respondido um instrumento que contém perguntas que visam contemplar o que foi citado anteriormente, a partir do qual começará a ser detalhada a construção do PTS e guiará a realização das ações terapêuticas, seja no CAPS ou em outro serviço de saúde da rede. Logo após o acolhimento, o usuário passa por consulta médica para avaliação; depois de uma discussão com o profissional responsável que o acolheu, determinase o tratamento psicotrópico a partir da classificação “intensivo”, “semi-intensivo” ou “não intensivo”. O CAPS utiliza um formulário específico para a construção do PTS (MATOS et al., 2017). A elaboração do PTS acontece em reuniões semanais com a equipe do CAPS, na qual fica estabelecido o processo de cuidado, com a inclusão das atividades do projeto. As alterações realizadas nas fases do PTS se dão de modo individual e partem das discussões da equipe em conjunto com o usuário e familiares (SILVA, 2014). No entanto, alguns entraves foram apresentados em um estudo de Diniz (2017), relacionados à elaboração do PTS, tanto na Atenção Primária quanto no próprio CAPS. O autor mostrou que os usuários se queixam da relação não horizontalizada nas intervenções promovidas pelas equipes do serviço; a figura do médico ainda é bastante centrada nesses espaços, e também o uso do medicamento se torna predominante como recurso exclusivo do tratamento. A partir desse contexto, Machado e Ricci (2020), notaram que os profissionais de um CAPS infanto-juvenil tinham dificuldades no manejo dos usuários em situação de crise. Buscou-se compartilhar as demandas apresentadas de crianças e adolescentes com a equipe de referência da assistência social; com o avanço das discussões dos PTS, observou-se que havia conflitos entre as ofertas de tratamento e também considerável desarticulação entre os diferentes serviços e as instituições ocasionada pela falta de comunicação. De acordo com Menezes Junior et al. (2019), torna-se importante ampliar as intervenções de cuidado em situações de crise em saúde mental, transformando como objeto do trabalho, e considerando os aspectos éticos, políticos e clínicos nas diferentes formas de manejo. Torna-se um desafio revolucionar o campo da psicopatologia, diante deste novo lugar transformador, que é construído a partir da criação de serviços que façam parte da comunidade e que constituam ações que levem em conta a integralidade do cuidado, com a lógica multiprofissional estabelecendo diálogo entre si, com o objetivo de ampliar a perspectiva de que as injustiças sociais influenciam no sofrimento psíquico. Diante da influência dos aspectos sociais, políticos e culturais no sofrimento psíquico em todo o seu processo, e visando ampliar o entendimento sobre o fenômeno da crise, sugerese a expressão Crise Psicossocial para nomear um momento de rompimento que carrega marcas singulares manifestadas no corpo da pessoa que sofre e componentes do ambiente social onde esse sujeito está inserido, o que pode tanto gerar agravamento do sofrimento quanto possibilitar cuidado (MENEZES JUNIOR et al., 2019). De acordo com Lima et al. (2012, p. 424), “Dar conta de usuários em crise [...] tornouse o principal desafio desse modelo substitutivo”. Os profissionais dos CAPS observam que o perfil das pessoas que recorrem ao substitutivo mudou: o cuidado a partir da lógica comunitária apresenta elevação dos casos de usuários em situações de crise, sinalizando a urgência em adotar um novo modelo de organização para receber essas pessoas e ofertar cuidado com qualidade (SILVA; DIMENSTEIN, 2014). Na atenção psicossocial, os processos de trabalho têm como característica o trabalhointensivo, predominantemente pautado nas tecnologias leves, em experiências relacionais entre os profissionais do campo da saúde mental, a comunidade e os usuários do serviço, possibilitando estimular a participação mais efetiva dos trabalhadores. Essas particularidades são importantes, podendo gerar resultados para os profissionais do campo, para a gestão do trabalho e para os recursos humanos (VASCONCELOS, 2009). Em um estudo realizado em um Centro de Atenção Psicossocial no Ceará, os autores observaram que os usuários abandonavam o tratamento e retornavam com queixas ao atendimento recebido no serviço, as práticas estavam arraigadas em prescrições, sem interações subjetivas, gerando desmotivação em continuar com o tratamento. Outra fragilidade apresentada no mesmo estudo, foi a programação das ações de forma conjunta entres os atores envolvidos no processo (profissionais/usuários/família): observa-se que o usuário não é convidado a participar do seu próprio processo de cuidado, sendo muitas vezes retirado do espaço de discussão (JORGE et al., 2015). Diniz (2017), em seu estudo com os profissionais de referência na ESF – que são responsáveis pelos usuários no território –, evidenciou a necessidade de que estes sejam mais preparados para o cuidado em saúde mental. O autor enfatiza que o matriciamento se apresenta como uma metodologia de trabalho que consegue ofertar suporte aos profissionais da Atenção Básica e viabiliza a construção do PTS. O trabalho efetivo dos substitutivos pode evitar os agravos e promover qualidade de vida aos usuários, tanto da Atenção Básica quanto dos serviços especializados, refletindo na redução do número de usuários em situação de crise, os quais ainda recorrem aos hospitais psiquiátricos e ao tratamento medicamentoso como recurso exclusivo de cuidado. Neste sentido, a resolutividade é uma das bases do Sistema Único de Saúde, sendo conceituada como a exigência de que, quando o usuário recorre por atendimento ou quando ocorrem demandas de ordem coletiva sobre saúde, o serviço do território precisa estar capacitado para ofertar cuidado e resolver até seu nível de competência (ROTOLI et al., 2019). As práticas são resolutivas quando dão respostas positivas ao sujeito que procura pelo serviço de saúde, não se resumindo exclusivamente pela cura de patologias, mas também através da diminuição do sofrimento e da manutenção e promoção da saúde. A resolutividade pode ser observada a partir de dois aspectos: a habilidade de atender os problemas e o encaminhamento daqueles que precisam de cuidados especializados. No campo da saúde mental, a análise da resolutividade de um serviço está relacionada à mensuração de resultados, sobretudo a ações de cuidado oferecidas pelo serviço de saúde (ROTOLI et al., 2019). Deste modo, a resolutividade apresenta aspectos como: acolhimento da queixa do usuário; o contentamento do usuário por ter sua demanda atendida e as práticas de cuidado que são ofertadas pelo serviço. Presume também, que os serviços de saúde mental devem indicar referências especializadas, garantir o acesso aos serviços de saúde e a presença de trabalhadores capacitados para prestar acolhimento aos usuários, seja para dar início ao tratamento ou continuidade (ROTOLI et al., 2019). No entanto, as práticas de acolhimento nos serviços de saúde mental também apresentam fragilidades, a exemplo da desarticulação dos serviços de saúde nos diferentes níveis de atenção, resultando no comprometimento dos encaminhamentos dos usuários entre os serviços. As autoras Scheibel e Ferreira (2011), apontam em seu estudo sobre um CAPS, que os atendimentos em saúde precisam estar articulados, posto que necessitam frequentemente da intersetorialidade diante das complexidades das demandas para incluir os sujeitos que, por terem um diagnóstico de transtorno mental, são colocados à margem socialmente. Na mesma pesquisa, as autoras mostram as queixas relatadas pelos usuários sobre a falta de acolhimento em outros serviços de saúde, uma vez que muitas demandas dos usuários poderiam ser solucionadas pela porta de entrada do sistema. As pessoas poderiam receber acolhimento também na atenção básica; essa fragilidade nos processos de trabalho faz com que os usuários sejam encaminhados para os CAPS, o que só reforça a importância de articulação dos serviços de saúde em seus níveis de complexidade (SCHEIBEL; FERREIRA, 2011). A percepção dos efeitos positivos das práticas de acolhimento – tanto pelos profissionais como pelos usuários e familiares – apresentam divergências, como aponta Jorge (2011). Para alguns sujeitos, o acolhimento pode também ser prejudicial, por entender que essas relações podem causar dependência. Ainda segundo Jorge et al. (2011), quando o usuário estabelece vínculo com alguém ou alguma instituição de saúde, consequentemente laços afetivos são gerados, e esses laços podem ou não contribuir para a efetividade da conduta terapêutica e para manutenção da vida das pessoas que são afetadas, sejam os profissionais ou usuários. Dessa forma, os afetos podem ganhar sentidos distintos, tais como respeito, carinho, antipatia etc. Em estudo sobre as dificuldades nos processos de trabalho em um CAPSi, Carvalho (2014), identifica que os profissionais encontram dificuldades em realizar práxis que extrapolem os muros dos serviços. As práticas de cuidado estão arraigadas ao modelo hospitalocêntrico, o que gera fragilidades e entraves nas relações entre os atores envolvidos no processo. Além disso, as práticas nos próprios muros do serviço interferem na construção de parcerias com a comunidade que possibilitariam promover ações com o objetivo de diminuir o preconceito com os usuários e ampliar o contato com outras instituições, como por exemplo escolas e Unidades de Saúde da Família (USF). Estratégias assim, potencializam a intersetorialidade e viabilizam o cuidado com as crianças e adolescentes com diagnóstico de transtornos mentais (CARVALHO, 2014). O CAPSi adota a união intersetorial com diferentes instituições da sociedade como uma relevante estratégia para ofertar atendimento integral às pessoas em sofrimento psíquico. Dessa forma, a intersetorialidade pode ser considerada a base importante dos substitutivos para o público infanto-juvenil, desde que as ações sejam efetivamente concretizadas (CARVALHO, 2014). Assim, as práticas de acolhimento ofertadas pelos profissionais do CAPSi (a escuta qualificada, por exemplo) funcionam como motivação para o usuário e para a família, que se sentem cuidados. Ações de cuidado do CAPSi em conjunto com os familiares possibilitam facilitar, motivar, elucidar e apoiar, para que sejam favorecidos a convivência e o respeito diante das vivências de sujeitos em sofrimento psíquico, ao mesmo tempo em que se aprimora o cuidado (CARVALHO, 2014). Em uma pesquisa sobre um CAPS III empreendida por Clementino et al. (2017), os usuários informaram entraves referentes à organização do serviço, a exemplo da localização do substitutivo – o que gera gastos para os usuários e familiares quando precisam se deslocar até lá –, das fragilidades relacionadas à estrutura física do substitutivo e da falta de recursos humanos e organizacionais. Mesmo com a satisfação no atendimento, os usuários do serviço sinalizaram outras barreiras relacionadas ao horário de funcionamento do CAPS, ao longo tempo de espera para as consultas e à falta de medicamentos. Esses problemas impactam negativamente na qualidade dos cuidados prestados e dificultam o acesso ao serviço. Além disso, outras fragilidades foram identificadas: a escassez de informações relacionadas aos atendimentos e o número elevado das demandas dos usuários no serviço. Tais dificuldades interferem na comunicação e nos atendimentos (CLEMETINO et al., 2017). As práticas de acolhimento são fundamentais no processo de trabalho em saúde mental, pois contribuem com o fortalecimento do vínculo dos usuários com o serviço (CLEMETINO et al., 2017).É importante que todos os atores – pacientes, familiares e profissionais da saúde e assistência social – estejam envolvidos na implementação e no desenvolvimento de estratégias e ações de saúde mental, a fim de que as medidas caminhem no sentido da construção de alianças que possibilitem fortalecer e dar seguimento aos avanços que foram alcançados, tendo como base a lei de saúde mental brasileira e as orientações técnico-científicas das instituições internacionais do campo da saúde mental (ALMEIDA, 2019). Os estudos lidos evidenciam que as práticas de acolhimento nos CAPS decorrem de maneiras diversificadas, alguns profissionais do serviço limitam as práticas de acolhimento somente no contato inicial, outros trabalhadores compreendem sobre a necessidade da construção do vínculo, que vai além da entrada dos usuários no CAPS. Observa-se que não existe padronização do acolhimento nos serviços de saúde mental. As práticas para acolher os usuários e os familiares que chegam nos serviços de saúde mental estão relacionadas com: a compreensão que os profissionais têm sobre acolhimento; as fragilidades na elaboração de estratégias que possibilitem a construção do vínculo entre os atores (usuários/familiares/equipe); o modelo biomédico como prática de cuidado; e a inexistência da corresponsabilização no processo de cuidado.
Curso híbrido com carga horária total de 160 horas -10 horas semanais Carga horária presencial 20 horas (cinco encontros de 4 horas) Carga horária EaD 140 horas no Moodle da UEFS. Em cada encontro presencial será desenvolvido um tema por meio de metodologias ativas de aprendizagem (Roda de conversa, simulação de atendimento, discussão de caso) para refletir sobre a prática cotidiana de cuidado em saúde realizada nos Centros de atenção psicosial). As atividade remotas incluem leitura de textos selecionados, elaboração de textos, mapas mentais, participação em fóruns de discussão, etc. Avaliação: Atividades Presenciais obrigatórias Participação no fórum Elaboração de texto escrito Vagas: 40 (inicialmente direcionada para quem aceitou participar da pesquisa, o restante das vagas serão disponibilizadas para outros profissionais dos CAPS interessados). Facilitares: 3
Aprofundar conceitos fundamentais para o cuidado do paciente no Centro de Atenção Psicossocial.
1. Revisitar e refletir sobre os aspectos históricos e conceituais da Reforma Psiquiátrica Brasileira. 2. Refletir sobre o processo de adoecimento das pessoas com transtornos mentais 3. Conhecer aspectos normativos e legais do cuidado ao paciente com transtorno mental 4. Refletir sobre os sujeitos que confluem nos CAPS (profissionais da saúde, usuários, famílias, comunidade). 5. Analisar o processo de trabalho no CAPS.
Com todo o conhecimento presente na literatura sobre os impactos positivos gerados através das práticas de acolhimento, as quais resultam em transformações significativas na vida dos usuários – tanto dos serviços de saúde na atenção básica, quanto da atenção psicossocial – , é importante enfatizar que os processos de acolhimento vão além da escuta qualificada. Busca-se, sobretudo, solidificar vínculos sociais no contexto comunitário, com foco no protagonismo das pessoas e na integração dos laços entre os usuários, os profissionais do serviço de saúde e a comunidade. As pesquisas apontam bons resultados sobre as práticas de acolhimento em alguns CAPS, bem como, outros estudos apresentam os desafios e as fragilidades na oferta do acolhimento nos serviços de saúde mental. Assim, este curso torna-se importante para fortalecer as práticas de acolhimento desenvolvidas nos CAPS do município de Feira de Santana. Este curso surgiu como desdobramento da pesquisa realizada por Verônica Lima na dissertação de Mestrado no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) concluído em 2023 intitulado “O Acolhimento Nos Centros De Atenção Psicossocial (Caps) Em Feira De Santana”. Os resultados indicaram que os profissionais entendem o que significa acolhimento de acordo com os princípios da Política Nacional de Humanização, porém, as práticas são limitadas e ainda arraigadas ao modelo biomédico. Os trabalhadores alegam se sentir sobrecarregados pela demanda excessiva de trabalho e pelas más condições de trabalho e a falta da participação da família no processo de cuidado, porém, se sentem satisfeitos em autuar em saúde mental. Conclui-se que os trabalhadores compreendem a importância e a forma de realizar as práticas de acolhimento, entretanto, as condições nos CAPS não são favoráveis para sua implementação. Deste modo, é necessário pensar em transformações na organização dos processos de trabalho, e na educação permanente com formação crítica dos profissionais. Este curso foi pensado como uma forma de contribuição da Universidade Pública com a qualificação profissional destes trabalhadores do SUS que levará à melhor qualidade da atenção aos usuários.

Histórico de movimentação
01-06-2023 10:26:57

Criação da proposta

13-09-2023 14:30:05

Parecer da Câmara de Extensão

Resolução anexa
07-08-2023 16:56:34

Em Análise

Proposta enviada para análise da Câmara de Extensão
13-09-2023 14:30:05

Aprovado

Resolução anexa
13-09-2023 14:30:24

Ativo

Homologado na Proex
v1.4.12
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